O conceito de arquitetura organizacional: Uma novo campo de possibilidades
Por Jadir Mauro Galvão
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Arquitetura
e estrutura: Tal como uma casa pode ser construída e
se estruturar a partir dos recursos disponíveis e não de propósitos previamente
elaborados, uma empresa também pode ser estruturada a partir de “puxadinhos”.
Mas quando se chega a um determinado grau de maturidade se dispõe de mais
recursos, pode-se pensar numa arquitetura mais bem planejada e estruturada.
Pode-se adotar uma arquitetura utilitarista, minimalista, primar por uma beleza
estética ou coisa que o valha. Mas, o normal é que, a partir do instante em que
a empresa vai ganhando corpo e tamanho ela comece a se estruturar de maneira
mais ordeira e na direção de um propósito mais elaborado.
Historicamente as
empresas buscaram modelos de estrutura organizacional confiáveis e que
produziam resultados eficientes. Inicialmente os modelos de hierarquia, comando
e controle adotados pelas organizações militares ou monárquicas serviu bastante
bem aos propósitos das organizações. Algumas poucas pessoas detinham o
conhecimento sobre a estratégia e o funcionamento e comandavam o contingente de
colaboradores nas ações com vistas ao cumprimento das metas que levavam ao
plano estratégico.
Os colaboradores, com seu
conhecimento limitado, eram escolhidos por sua capacidade de responder rápida e
apropriadamente aos comandos e aos controles. Ao longo do século XX, esse
modelo respondeu bastante bem aos propósitos. Some-se a isso que muitos foram
os desenvolvimentos e aperfeiçoamentos produzidos ao longo deste século. A
tecnologia, os processos, as metodologias... foram aperfeiçoamentos que se
deram a partir dos mesmos modelos de comando e controle.
A burocracia era o
orgulho dessas organizações. Modelos bem estruturados, bem comandados, um corpo
técnico-profissional bem treinado e bem comandado era o estado da arte da
administração dita científica.
Mas, já no final do
século, estas organizações começaram a padecer com mudanças mais bruscas e
inesperadas que exigiam uma correção de rota mais rápida. As coisas funcionavam
bem indo sempre do mesmo modo e na mesma direção, mas quando a rota se
modificava ou a direção, as respostas nem sempre tinham a rapidez necessária.
O modelo que foi-se
aperfeiçoando paulatinamente ao longo do tempo chegou num patamar que não
permitia mais desenvolvimentos ao mesmo tempo que não respondiam mais tão bem
às demandas do mercado. Havia chegado ao seu teto de aperfeiçoamento e já não
permitia mais upgrades. Tornara-se obsoleto, embora muitas empresas ainda
insistam nesse modelo. Uma a uma, essas empresas começam a experimentar os
efeitos inexoráveis dessa obsolescência. Quer pela perda de sua posição no
mercado, quer pela insatisfação de seus colaboradores que já não se sujeitam
mais a serem meros coadjuvantes, quer pela concorrência que as sobrepuja.
Muitas empresas ganharam
tal força e poder que acreditavam que tudo devia se adaptar a ela.
Fornecedores, mercado, colaboradores,
materiais... O lucro e a produtividade eram mais importantes que as pessoas e
mesmo a sociedade. Importava o tamanho da organização e as pessoas tinham de se
adaptar a isso.
Mas, o tamanho que
algumas organizações atingiram as tornava lentas. Por mais que tivessem certa
força e poder, pecavam por sua falta de flexibilidade e dinamismo.
A tecnologia, na esteira
por responder a essas mudanças produziu outras tantas que acabaram passando à
frente e começaram a dar o Norte do que as empresas precisavam responder.
Outras organizações, por
não terem atravessado o processo lento e gradual do desenvolvimento puderam
nascer e crescer com um DNA mais ágil. Apostando mais na ousadia de sua
juventude do que na segurança dos sucessos passados.
A arquitetura
organizacional entra como um trampolim que nos permite saltar de um modelo
antigo para algo novo. Não se trata aqui de melhorias, desenvolvimentos,
aperfeiçoamentos, mas sim de ruptura. Não de inovação, mas de criação!
Não se trata de jogar
fora tudo o que foi feito. Jogar no lixo todo o legado de anos de sucesso. Mas
de lançar um outro olhar.
O comando e controle cede
espaço para estruturas mais enxutas, com equipes multidisciplinares que se
auto-organizam, que conseguem tomar decisões sem necessitar do respaldo de
gerentes e diretores. Processos que prescindem das inúmeras etapas de
aprovações e se concentram nas atividades produtivas que geram mais resultados
e menos com o controle de exceções. Estas são tratadas como tal.
A falta de necessidade de
comando e controle não torna obsoleto os níveis médios da hierarquia, mas muda
seu status e mesmo seu papel. Aquele que demandava, ordenava, supervisionava e
controlava, agora pode facilitar, informar, mediar e auxiliar, ou mesmo até a
fazer.
Aquele que zelava pelo
controle mais macro, agora livre do ônus das tantas decisões, agora pode se
concentrar em novas estratégias, novos produtos, novos mercados e novos
clientes.
Perde um tanto de seu
poder, este já não é mais necessário, mas “pode” se tornar estratégico ou se
tornará obsoleto.
Os organogramas
piramidais precisam ser redesenhados, pois já não representam modelos
apropriados para os novos formatos. Mas não se trata apenas de escolher “uma”
nova forma geométrica para representar a organização. Podem ser círculos,
teias, colmeias, conjuntos, fractais... A arquitetura organizacional não é mais
fixa, mas volátil e dinâmica. Pode ter uma forma em determinado momento e outra
quando for apropriado. Como uma nuvem que responde aos ventos, um rio que
entremeia os obstáculos.
O importante aqui é se
perceber a mudança do olhar. Isso tem um nome: paradigma.
Enquanto as organizações
de comando e controle respondiam bem ao paradigma cartesiano, ao longo do
século XX outros paradigmas começaram a desanuviar nosso olhar.
A tecnologia nos legou o
paradigma de sistemas, de onde o conceito de arquitetura organizacional surge e
se alicerça. Mas outros paradigmas disputam espaço como modo de percepção da
realidade e que impedem uma hegemonia de um sobre o outro. Hegemonia que o
modelo cartesiano deteve durante alguns séculos.
O paradigma complexo
percebe a realidade como uma teia. Onde as coisas se interrelacionam e se
interferem reciprocamente. A teia da vida é dotada de uma complexidade que
desafia nossa mente mais cartesiana.
Fomos historicamente
doutrinados para entender que o todo se compões de partes. E que se cada parte funcionar bem o todo
estará em ordem. Mas, as questões da sustentabilidade nos obrigam a mudar o
nosso olhar. A natureza é complexa. O efeito borboleta tem uma lógica que
escapa uma explicação simplista.
Nesse modelo (complexo, e
mesmo no de sistemas), o todo é maior do que a soma das partes. O resultado
pode ser maior do que a soma dos esforços individuais.
Não é mais possível
dizer: “eu fiz minha parte!”. Isso não é mais suficiente. Os limites entre as
partes não são mais distinguíveis. A minha parte, se assim ainda é possível
chamar, vem desde muito antes da minha atividade e impacta para muito depois.
É preciso comprometimento
com o resultado final. Ele é que importa e não apenas não ser culpado pelo
fracasso e ter em quem colocar a culpa.
E não apenas o paradigma
de sistemas e o da complexidade. Estamos diante de novos olhares. Emerge o
paradigma integral e, quem sabe, outro depois deste.
Não dá mais para
acreditar que nosso apego por Descartes terá a capacidade de nos conduzir a um
porto seguro. Não há mais porto seguro. Precisamos aprender a surfar as ondas
com suas conformações variáveis. Umas vão nos derrubar, outras vão nos levar à
crista. Mas logo depois teremos de nadar novamente. Mudando sem parar.
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