Competição e cooperação

(Por Jadir Mauro Galvão)

O mundo corporativo em geral trabalha no paradigma da competição. Empresas competindo umas com as outras pela liderança do mercado. Equipes competindo entre si pelo reconhecimento da empresa e colaboradores competindo por um tapinha nas costas ou uma eventual promoção. Existe uma crença de que a competição fomenta o progresso de todos. De fato, muitas pessoas vão em busca de se especializar e, com isso, estar preparado para competir em melhores condições caso apareça uma vaga atraente em outra empresa, ou uma promoção na mesma. Contudo, na prática, não é esse o efeito que vemos se instaurar. É da natureza da competição que poucos ganhem e a maioria perca. Também é comum que os perdedores se virem todos contra quem venceu, no intuito de superá-lo. Outra regra básica é a de que é muito mais fácil fazer com que todos percam se um ou outro não se sentir com possibilidades de vitória. Com frequencia vemos pessoas torcendo para que o projeto de errado e apenas se cercando para não se tornar o culpado pelo fracasso, entoando o velho mantra dos derrotados: Eu fiz minha parte!
Venho pesquisando o tema da competição já há alguns anos tentando compreender sua utilidade. Confesso que até hoje não encontrei nenhuma sequer, mas continuo procurando. Competição de uns contra outros, soa mais como divisão de forças, conspiração. Não consigo ver vantagem alguma nisso. Pelo contrário, vejo que seus efeitos são bastante prejudiciais a todos. Muitas das posturas pouco éticas que presenciei dentro de diversas empresas, tinham por pano de fundo algum tipo de competição em que o concorrente não se via em condições de vencer e passara a apenas se defender. A competição virava guerra pela sobrevivência. Não sobrevivência real, mas do emprego, da posição, do status adquirido ou coisa que o valha.
Competição válida, saudável e que beneficia a todos é somente quando competimos conosco mesmo pelo nosso próprio aprimoramento pessoal, isso é mais evolução do que competição, mas quando a demanda para esse aprimoramento vem de fora isso tende a perder a atmosfera de crescimento e ganhar ares de sobrevivência. Ai o caldo entorna. Por outro lado a cooperação quando fomentada adequadamente, e se bem tiradas as vaidades individuais de lado, so tem a beneficiar a todos. Quando fazemos nossa parte e vemos que outro membro da equipe está em dificuldades, corremos em seu auxilio para que o projeto seja bem sucedido.
Na competição vigora a relação eu-outro e este outro é sempre competidor, concorrente, quando não, inimigo. Na cooperação vigora o nós, nesse caso o outro é aliado e não inimigo. Quando os projetos são alcançados pela cooperação de todos, todos saem ganhando e o espírito de equipe se fortalece. Ao contrário da competição, ninguém perde e todos ganham. Ainda que o projeto fracasse a derrota não terá gosto assim tão amaro, pois os laços de cooperação ainda saem fortalecidos. Contudo é possível que num período de transição entre um e o outro modelo surjam oportunistas que queiram se valer da força do grupo apenas para sair vitorioso. Ou outros que no fracasso do projeto preferiram apontar os culpados apenas para não servir de bode expiatório. Mas esses desvios ainda são do modelo anterior. Certo ranço que insiste em ver competição, vitória e derrota; culpados e inocentes. Um mero resquício de competição que teima em não se render e que ainda teme a derrota.
Claro que podem aparecer no interior de equipes cooperativas os indivíduos que se aproveitam da força do grupo para ficar na “aba”, não cooperar e ainda se apresentar prontamente para comemorar o sucesso com o grupo mesmo que o produto final não tenha a fragrância de seu suor. No fracasso, tampouco apontará os culpados e ficará tão consternado quanto os outros, mas esse indivíduo somente esta em lugar errado e apenas não sabe como colocar suas competências ao serviço do grupo. E mesmo esses não são privilégio da cooperação. Talvez até sejam mais daninhos na competição.

Se pudesse aqui declarar meu sonho de consumo, este seriam equipes cooperativas compostas de líderes conscientes de seus papeis, tanto quanto de seus talentos e limitações e que somassem seus talentos para a obtenção dos resultados almejados pelo grupo. Objetivos que promovessem um auxilio mútuo e oportunidades de superação, aprendizagem e crescimento para todos. Onde o percurso fosse tão importante quanto o objetivo e o trabalho cooperativo mais importante que os resultados. Onde muitos cooperam todos ganham.    

Comentários

  1. Poxa, que bacana ver pessoas que compartilham com nossa ideias! Um dos ultimos insights que tive foi essa evolução das perspectivas estratégicas. Inicialmente era a competição (Michael Porter) onde as relações de forças era o tema central, depois surgiu o Oceano Azul que pregava você fugir da competição e buscar "navegar" em um cenário mais tranquilo e agora a tendência mais vista é a colaboração, co-criação e inovação aberta, onde as empresas ao inves de lutar ou fugir, devem buscar se ajudar, independente se são clientes ou fornecedores umas das outras, ou até mesmo concorrentes. Muito bacana esse post! Parabéns Professor!

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    1. Obrigado, esse sempre foi um drama que vivi no mundo corporativo. Pessoas competindo contra todos. Mais dividia do que somava. Hoje carrego essa bandeira por ai afora. Esse e outros mais conceitos do mundo corporativo frutos de ilusões são debatidos no blog e no livro Filosofia nas empresas, de minha autoria, publicado recentemente pela Paulus.Acompanhe e leia o livro.

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    2. Legal, vi que voce é professor tb. Meu livro Filosofia nas empresas é bibliografia da pos em filosofia nas empresas aqui em sp...Se quiser envio um para voce.

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