Arranjos físicos, remotos, híbridos e novas possibilidades de layout profissional


 Retrato histórico: Os ambientes administrativos de antigamente tinham uma conformação bastante padrão, típico de organizações de comando e de controle. Havia a emblemática figura do chefe ou, melhor dizendo, do supervisor. Esta nomenclatura não era a toa. Em geral, sempre que se pudesse, o local de trabalho era disposto tal e qual uma sala de aula, com mesas uma afrente da outra em fileiras em um grande galpão. Todas as mesas viradas na mesma direção: a do supervisor. Este, ao contrário, geralmente ficava em um patamar mais elevado e de frente para todas as outras. De modo que podia ter uma super visão geral de todos os seus subordinados. Esse formato permitia que o chefe observasse o andamento dos trabalhos e mesmo se haviam ausências, ou conversas que não diziam respeito ao bom andamento do trabalho.

Ao mesmo tempo, cada funcionário sabia que estava sendo supervisionado e isso inibia uma porção de eventuais distrações ou mesmo indolência. Sabia que mesmo seus trajes, seu asseio e sua eficiência eram objeto de observação e mesmo de censura.

Nas fábricas, era comum que o chefe ficasse num andar superior, desde que de lá pudesse observar as atividades de cada operário.

Os layouts podiam mudar. Uma linha de produção onde o objeto a ser transformado percorria uma linha onde em cada local um grupo de operários especializado se incumbia de transformar o determinado objeto. Noutros casos uma divisão em departamentos menores agrupando atividades afins. Deixando profissionais que dependiam um do outro próximos para evitar deslocamentos desnecessários.

Sobre as mesas de escritório o mais comum era ter uma caixa de entrada de documentos ou atividades a realizar, em geral do lado esquerdo das mesas. Do lado direito uma caixa de saída de documentos que já haviam sido trabalhados e que deveriam seguir para outra mesa, para outra atividade ou para o arquivo. O estafeta se incumbia da retirada dos documentos da caixa da direita e do direcionamento para a caixa esquerda de outra mesa.

Esse formato tinha em vista sempre evitar distrações, indolência, movimentações desnecessárias e privilegiar a produtividade e a eficiência. Seguir à risca as diretrizes da organização era o que se esperava de cada funcionário. E o que não se esperava eram demonstrações emocionais de quaisquer tipos.

Aqueles que tinham necessidade tinham um telefone ou uma máquina de escrever sobre a mesa. Nas mesas mais elaboradas era comum encontrar um porta-lápis, uma caixinha com um bloco de notas de papel e raramente um grampeador. Quando não, este era compartilhado dentro de uma mesma seção. As mesas de madeira escura e cadeiras igualmente de madeira. Aqueles que podiam traziam uma pequena almofada para tentar suavizar a dureza da cadeira.

 

Experiência de Hawthorne

 

Nos idos de 1927 e 1932 foi realizada uma experiência que pretendia verificar qual o efeito da intensidade da luminosidade na produtividade dos profissionais. Vários testes foram efetuados com o aumento e a diminuição da intensidade da luz.

Foram notadas diferenças na produtividade, mas a surpresa ficou por conta do sentido das diferenças de produtividade. Elas não tinham relação com a luminosidade, mas com a atenção e cuidado que se oferecia às pessoas.

Este experimento trouxe uma nova luz sobre as noções de eficiência e produtividade, mas também trouxe a ideia de que as pessoas eram importantes nessa equação. Não só a eficiência e a produtividade, mas os seres humanos como tal.

 

Novas possibilidades de layout

 

Ao longo do tempo os escritórios foram se modificando, buscando um modelo que se demonstrasse mais funcional. Os grandes salões repletos de mesas receberam divisórias que buscavam abafar um pouco o burburinho que um grande contingente de pessoas produzia e mesmo os sons das máquinas de escrever e campainhas de telefone ecoando por todo o salão. Também reduzir a interferência produzida por outras estações de trabalho que não tinham tarefas afins.

Ocasionalmente as mesas podiam ser dispostas em módulos com duas, três ou quatro mesas coladas uma de frente para outra, no objetivo de se ganhar rapidez na comunicação e troca de informação. Podia-se também compartilhar materiais de escritório em cada um dos módulos. Depois vieram as baias, em grupo ou isoladas. As pessoas ficavam voltadas para a parede do fundo da baia, de costas para outra baia. As baias que ficavam lado a lado eram separadas por pequenas divisórias. E cada um desses modelos se mostrava interessante por um lado e por outro não.

Claro que em determinadas atividades a conformação era obrigatória. Para a construção de uma casa, um avião ou navio. Todos os profissionais precisavam se colocar na posição que podia executar sua função. O único detalhe aqui era o de impedir que duas pessoas precisassem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo. 

 

A chegada dos computadores

 

Com a chegada dos computadores as antigas máquinas de escrever foram compulsoriamente aposentadas. As caixas de entrada e saída foram para dentro do computador. E o cronograma e o controle eletrônico de tarefas ocupou o lugar do supervisor.

Trabalhos mais criativos possibilitavam conversas mais descontraídas e menos formais no ambiente de trabalho. Paulatinamente cada mesa foi ganhando um terminal de vídeo ou mesmo um computador conectado. Os inúmeros papeis foram desaparecendo e os documentos se tornaram digitais.

Mesmo os relatórios em papel impresso zebrado que resistiram por tanto tempo agora cedem espaço para sistemas visuais e digitais.

Mas não para por aí. Percebeu-se que muitas das atividades realizadas centralizadamente em escritórios podiam ser executadas fora dele. Desde que os sistemas estivessem conectados. Mas a internet deu conta disso rapidamente. Abriu-se a possibilidade do Home-office. Mas essa prática teve certa resistência durante um bom tempo. Mas pouco a pouco se percebeu que poderia ser interessante.

Nem sempre as internets de casa eram da mesma velocidade ou estabilidade. Nem sempre se tinha um local apropriado e privacidade para realizar o trabalho. Interferência de crianças ou mesmo de pets podiam tirar o foco do trabalho. Mas todos esses contratempos foram sendo sistematicamente superados.

A pandemia ofereceu o golpe decisivo para esse passo. Ainda que alguns escritórios resistam de modo atroz, o home-office já se tornou realidade e mais, uma possibilidade de ter a seu serviço pessoas residentes longe do escritório sem os transtornos de deslocamentos diários extenuantes.  

 

Inovações e possibilidades

 

Hoje já existem ferramentas online que auxiliam em todas as etapas e ajudam a superar cada qual dessas eventuais dificuldades e pouco a pouco se vem acelerando fortemente esse movimento.

Trocas de mensagens instantâneas, ferramentas de controle de tarefas, lousas digitais que permitem interação e criação simultâneas, reuniões online instantâneas. Agenda online e compartilhada.

Mas as casas e edifícios residenciais ainda raramente oferecem locais de trabalho apropriados. Por isso mesmo surgiram os co-working que nos oferecem novas possibilidades.

Já é realidade que existam pessoas trabalhando em conjunto em computadores localizados fisicamente na Malásia, sendo operado do México, com programadores e analistas desenvolvendo sistema no Brasil, sendo gerenciados dos Estados Unidos e buscando suporte técnico de analistas lotados na Índia. A tecnologia já permitia tal tipo de arranjo remoto.  

 

 

Emprego e trabalho

 

Mas se esse novo olhar é promissor e cheio de possibilidades, não é menos importante constatar que todo esse desenvolvimento da tecnologia ceifa uma porção razoável de vagas de emprego.

Estamos falando de tecnologias que reduzem sensivelmente a necessidade de trabalho das pessoas. A inteligência artificial (Ia), mesmo estando substancialmente atrasada do que deveria estar consegue realizar o trabalho de vários profissionais, ganhando velocidade e precisão. Perdendo em criatividade, há de se frisar, mas como nossos dias atuais primam mais pela rapidez do que pela genialidade os empregos estão na ponta mais fraca da corda.

Teremos, muito em breve, o avanço da Ia, o avanço da robótica conectada e um maior desenvolvimento de outros tipos de automação. Todavia, isso coloca em risco uma enorme porção de empregos.

Claro que outros empregos irão surgir por conta desse mesmo desenvolvimento, mas não serão na mesma proporção e nem ao menos muito duradouros. Some-se a isso que esses novos empregos mais tecnológicos vão exigir do contingente profissional conhecimento de ponta, certificações e aperfeiçoamentos constantes.

Mas isso não é de todo ruim. Muitos dos empregos que serão extintos compreendem trabalhos repetitivos, desgastantes, pouco criativos e enfadonhos, que mesmo uma máquina pouco especializada pode executar.

Se de um lado nós, seres humanos, ficamos livres de atividades mecânicas e enfadonhas e ficamos livres para atividades mais genuinamente humanas, por outro, corremos o risco de ver rarear fontes de possibilidade de ganhar nosso sustento.

Mas esse não é problema da tecnologia, mas de nossa organização econômico-social que ainda não resolveu esse assunto e continua a se prender num modelo de trabalho privatizado (emprego) e ainda não conseguiu se organizar de outro modo, colocando em risco talentos ímpares, cuja competência não é valorizada e difícil de ser comercializada.

Precisamos elaborar um modo de vida onde não seja preciso vender nosso tempo, nossa vida nossos talentos sob a lei da oferta e da demanda que paga quantias astronômicas para um jogador de futebol e pouco ou nada para um pensador ou artesão. Nem tudo se coloca na prateleira e se vende por algum dinheiro. Muito menos nossa vida.

Mas tal problema não pode ser atribuído como de responsabilidade da sociedade. Por mais que possamos entender o termo sociedade ele é por demais genérico e sem face. O problema, em última instância é de cada um de nós que será afetado por isso.

Precisamos nos antenar em todos os avanços e construir soluções a partir deles. Ver o campo de possibilidade e, humanamente, elaborar soluções criativas. Não dá para esperar pela sociedade ou pela tecnologia para que se resolva nosso problema.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Organograma!

O nascimento do pensamento contemporâneo:

Modelagem de processos em arquitetura organizacional