Arranjos físicos, remotos, híbridos e novas possibilidades de layout profissional
Ao mesmo tempo, cada
funcionário sabia que estava sendo supervisionado e isso inibia uma porção de
eventuais distrações ou mesmo indolência. Sabia que mesmo seus trajes, seu
asseio e sua eficiência eram objeto de observação e mesmo de censura.
Nas fábricas, era comum
que o chefe ficasse num andar superior, desde que de lá pudesse observar as
atividades de cada operário.
Os layouts podiam mudar.
Uma linha de produção onde o objeto a ser transformado percorria uma linha onde
em cada local um grupo de operários especializado se incumbia de transformar o
determinado objeto. Noutros casos uma divisão em departamentos menores
agrupando atividades afins. Deixando profissionais que dependiam um do outro
próximos para evitar deslocamentos desnecessários.
Sobre as mesas de
escritório o mais comum era ter uma caixa de entrada de documentos ou
atividades a realizar, em geral do lado esquerdo das mesas. Do lado direito uma
caixa de saída de documentos que já haviam sido trabalhados e que deveriam
seguir para outra mesa, para outra atividade ou para o arquivo. O estafeta se
incumbia da retirada dos documentos da caixa da direita e do direcionamento
para a caixa esquerda de outra mesa.
Esse formato tinha em
vista sempre evitar distrações, indolência, movimentações desnecessárias e
privilegiar a produtividade e a eficiência. Seguir à risca as diretrizes da
organização era o que se esperava de cada funcionário. E o que não se esperava
eram demonstrações emocionais de quaisquer tipos.
Aqueles que tinham
necessidade tinham um telefone ou uma máquina de escrever sobre a mesa. Nas
mesas mais elaboradas era comum encontrar um porta-lápis, uma caixinha com um
bloco de notas de papel e raramente um grampeador. Quando não, este era
compartilhado dentro de uma mesma seção. As mesas de madeira escura e cadeiras
igualmente de madeira. Aqueles que podiam traziam uma pequena almofada para
tentar suavizar a dureza da cadeira.
Experiência
de Hawthorne
Nos idos de 1927 e 1932
foi realizada uma experiência que pretendia verificar qual o efeito da
intensidade da luminosidade na produtividade dos profissionais. Vários testes
foram efetuados com o aumento e a diminuição da intensidade da luz.
Foram notadas diferenças
na produtividade, mas a surpresa ficou por conta do sentido das diferenças de
produtividade. Elas não tinham relação com a luminosidade, mas com a atenção e
cuidado que se oferecia às pessoas.
Este experimento trouxe
uma nova luz sobre as noções de eficiência e produtividade, mas também trouxe a
ideia de que as pessoas eram importantes nessa equação. Não só a eficiência e a
produtividade, mas os seres humanos como tal.
Novas
possibilidades de layout
Ao longo do tempo os
escritórios foram se modificando, buscando um modelo que se demonstrasse mais
funcional. Os grandes salões repletos de mesas receberam divisórias que
buscavam abafar um pouco o burburinho que um grande contingente de pessoas produzia
e mesmo os sons das máquinas de escrever e campainhas de telefone ecoando por
todo o salão. Também reduzir a interferência produzida por outras estações de
trabalho que não tinham tarefas afins.
Ocasionalmente as mesas
podiam ser dispostas em módulos com duas, três ou quatro mesas coladas uma de
frente para outra, no objetivo de se ganhar rapidez na comunicação e troca de
informação. Podia-se também compartilhar materiais de escritório em cada um dos
módulos. Depois vieram as baias, em grupo ou isoladas. As pessoas ficavam
voltadas para a parede do fundo da baia, de costas para outra baia. As baias
que ficavam lado a lado eram separadas por pequenas divisórias. E cada um
desses modelos se mostrava interessante por um lado e por outro não.
Claro que em determinadas
atividades a conformação era obrigatória. Para a construção de uma casa, um
avião ou navio. Todos os profissionais precisavam se colocar na posição que
podia executar sua função. O único detalhe aqui era o de impedir que duas pessoas
precisassem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo.
A
chegada dos computadores
Com a chegada dos
computadores as antigas máquinas de escrever foram compulsoriamente
aposentadas. As caixas de entrada e saída foram para dentro do computador. E o
cronograma e o controle eletrônico de tarefas ocupou o lugar do supervisor.
Trabalhos mais criativos
possibilitavam conversas mais descontraídas e menos formais no ambiente de
trabalho. Paulatinamente cada mesa foi ganhando um terminal de vídeo ou mesmo
um computador conectado. Os inúmeros papeis foram desaparecendo e os documentos
se tornaram digitais.
Mesmo os relatórios em
papel impresso zebrado que resistiram por tanto tempo agora cedem espaço para
sistemas visuais e digitais.
Mas não para por aí.
Percebeu-se que muitas das atividades realizadas centralizadamente em
escritórios podiam ser executadas fora dele. Desde que os sistemas estivessem
conectados. Mas a internet deu conta disso rapidamente. Abriu-se a
possibilidade do Home-office. Mas essa prática teve certa resistência durante
um bom tempo. Mas pouco a pouco se percebeu que poderia ser interessante.
Nem sempre as internets
de casa eram da mesma velocidade ou estabilidade. Nem sempre se tinha um local
apropriado e privacidade para realizar o trabalho. Interferência de crianças ou
mesmo de pets podiam tirar o foco do trabalho. Mas todos esses contratempos
foram sendo sistematicamente superados.
A pandemia ofereceu o
golpe decisivo para esse passo. Ainda que alguns escritórios resistam de modo
atroz, o home-office já se tornou realidade e mais, uma possibilidade de ter a
seu serviço pessoas residentes longe do escritório sem os transtornos de deslocamentos
diários extenuantes.
Inovações
e possibilidades
Hoje já existem
ferramentas online que auxiliam em todas as etapas e ajudam a superar cada qual
dessas eventuais dificuldades e pouco a pouco se vem acelerando fortemente esse
movimento.
Trocas de mensagens
instantâneas, ferramentas de controle de tarefas, lousas digitais que permitem
interação e criação simultâneas, reuniões online instantâneas. Agenda online e
compartilhada.
Mas as casas e edifícios
residenciais ainda raramente oferecem locais de trabalho apropriados. Por isso
mesmo surgiram os co-working que nos oferecem novas possibilidades.
Já é realidade que
existam pessoas trabalhando em conjunto em computadores localizados fisicamente
na Malásia, sendo operado do México, com programadores e analistas
desenvolvendo sistema no Brasil, sendo gerenciados dos Estados Unidos e
buscando suporte técnico de analistas lotados na Índia. A tecnologia já
permitia tal tipo de arranjo remoto.
Emprego
e trabalho
Mas se esse novo olhar é
promissor e cheio de possibilidades, não é menos importante constatar que todo
esse desenvolvimento da tecnologia ceifa uma porção razoável de vagas de
emprego.
Estamos falando de
tecnologias que reduzem sensivelmente a necessidade de trabalho das pessoas. A
inteligência artificial (Ia), mesmo estando substancialmente atrasada do que
deveria estar consegue realizar o trabalho de vários profissionais, ganhando velocidade
e precisão. Perdendo em criatividade, há de se frisar, mas como nossos dias
atuais primam mais pela rapidez do que pela genialidade os empregos estão na
ponta mais fraca da corda.
Teremos, muito em breve, o
avanço da Ia, o avanço da robótica conectada e um maior desenvolvimento de
outros tipos de automação. Todavia, isso coloca em risco uma enorme porção de
empregos.
Claro que outros empregos
irão surgir por conta desse mesmo desenvolvimento, mas não serão na mesma
proporção e nem ao menos muito duradouros. Some-se a isso que esses novos
empregos mais tecnológicos vão exigir do contingente profissional conhecimento
de ponta, certificações e aperfeiçoamentos constantes.
Mas isso não é de todo
ruim. Muitos dos empregos que serão extintos compreendem trabalhos repetitivos,
desgastantes, pouco criativos e enfadonhos, que mesmo uma máquina pouco
especializada pode executar.
Se de um lado nós, seres
humanos, ficamos livres de atividades mecânicas e enfadonhas e ficamos livres
para atividades mais genuinamente humanas, por outro, corremos o risco de ver
rarear fontes de possibilidade de ganhar nosso sustento.
Mas esse não é problema
da tecnologia, mas de nossa organização econômico-social que ainda não resolveu
esse assunto e continua a se prender num modelo de trabalho privatizado
(emprego) e ainda não conseguiu se organizar de outro modo, colocando em risco
talentos ímpares, cuja competência não é valorizada e difícil de ser
comercializada.
Precisamos elaborar um
modo de vida onde não seja preciso vender nosso tempo, nossa vida nossos
talentos sob a lei da oferta e da demanda que paga quantias astronômicas para
um jogador de futebol e pouco ou nada para um pensador ou artesão. Nem tudo se
coloca na prateleira e se vende por algum dinheiro. Muito menos nossa vida.
Mas tal problema não pode
ser atribuído como de responsabilidade da sociedade. Por mais que possamos
entender o termo sociedade ele é por demais genérico e sem face. O problema, em
última instância é de cada um de nós que será afetado por isso.
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