Novos conceitos em associação ao de arquitetura organizacional
Por Jadir Mauro Galvão
Profusão de ideias: Não é só na tecnologia que as mudanças têm ganhado velocidade. Alguns conceitos no chegam dia após dia e que mudam o modo como vemos as coisas, alargam nossos horizontes e nos oferecem novas possibilidades. Nosso tempo dá menos valor aos conceitos do que antigamente e mais valor ao caráter prático das ações. Mas nem por isso os conceitos perderam sua importância e valor. O próprio conceito de arquitetura organizacional lança nosso olhar no sentido de abandonar a velha forma piramidal de estruturar as organizações. Mas, outros conceitos, quando associados ao de arquitetura organizacional fazem esse horizonte se alargar ainda mais.
Criação de valor
compartilhado, o conceito de acesso formulado
por Rifkin, a noção de plataforma, de crowdsourcing, croudfunding,
co-working, metaverso, os negócios sociais... São
conceitos disruptivos e que catapultam nossa compreensão da realidade e as
possibilidades de negócio para outro patamar. Falemos um pouco sobre eles sem
qualquer intenção de ser definitivo.
Criação
de valor compartilhado
Desde que nos vimos às
voltas com as questões da sustentabilidade e se entendeu que as empresas
precisavam primar por uma responsabilidade social, esse assunto era pautado nas
organizações, mas, no geral, tratados como custo, peso, dinheiro que sai e não
volta, obrigação feita de malgrado. Mas,
desde que Michael Porter concebeu a ideia de criação de valor compartilhado o
problema foi visto com outros olhos. E tratado de modo diferente no plano de
contas. O que antes era custo passou para a conta de investimento.
Claro que se esperando o retorno cedo ou tarde.
Grosso modo, a noção nos
encaminha a pensar tanto social quando ambientalmente de maneira estratégica,
focada no core business do negócio. A ideia é buscar um olhar para a ideia
central dos negócios e buscar através dela criar valor para a sociedade ou
natureza, desde que também possamos nos beneficiar dessa ação. Vamos a alguns
exemplos para tentar aclarar o conceito.
A Nestlé, foi uma das
primeiras organizações a abraçar essa ideia de Porter, acabando por se
reinventar mundialmente como empresa. Focada, como ela mesma diz, em nutrição,
para manter coerência com a proposta ela precisa que seus produtos sejam
nutritivos. Para tanto seus fornecedores também precisam garantir que os
insumos sejam nutritivos. A aposta da Nestlé foi a de que, se algum fornecedor
de cenoura ou abobrinha, insumos para a produção das papinhas de bebê,
estiverem cobrando um valor maior pelo seu produto, ao invés de substituir o
fornecedor e buscar outro mais barato, o que poderia comprometer a qualidade ou
a nutrição, ela faria uma aposta em criar valor para esse produtor,
transferindo tecnologia de produção, transferência de conhecimento sem qualquer
ônus para que este conseguisse produzir, mais, melhor e num custo menor, vender
mais barato e ainda ganhar mais com isso.
Se o problema não
estivesse na produção, mas no transporte, com caminhões que exigiam manutenção
cara, a Nestlé poderia financiar a aquisição de outros, mais modernos sem
cobrança de juros, apenas para criar valor para o fornecedor e tornar a
operação menos onerosa.
Criando valor para o
produtor, eventualmente para a cidade do produtor, para a comunidade local e,
com isso, criar um vínculo onde ela também poderia se beneficiar.
A Coca-cola, por sua vez,
criou um projeto global pautado na água. Insumo fundamental para sua produção.
As iniciativas incluem o desassoreamento de rios, o replantio de matas
ciliares, a ecoeficiência para se usar a menor quantidade possível de água
vinda da natureza e mesmo o tratamento da água utilizada para que, quando
descartada, não poluísse a natureza.
A empresa Natura,
capacita, organiza, treina e empodera comunidades para que estas colham insumos
da floresta para seus produtos com um manejo sustentável e gerando renda e
inclusão social.
Postos estes exemplos
destes negócios, cabe agora a nós conceber para cada negócio como este poderia
criar valor compartilhado, dentro de seu core business, gerando benefícios
sociais e/ou ambientais de sorte que o negócio também se beneficiasse.
Acesso
de Rifkin
Ainda nos anos 90 do
século XX, Jeremy Rifkin concebeu o conceito de acesso, baseado na
percepção de que muitas pessoas estariam dispostas a abrir mão da propriedade
em prol de apenas conseguir ter acesso aos benefícios que ela poderia
trazer. Não queriam se locomover com
seus próprios veículos e precisar arcar com o ônus do estacionamento, seguro,
manutenção e impostos, mas não perder o acesso à tal comodidade. Não queriam
ter uma casa na praia, mas ter acesso a uma, ou melhor, a muitas. Não queriam
ter suas próprias máquinas que logo se tornavam obsoletas, mas acesso as de
tecnologia mais avançada. Numa palavra queriam o acesso aos benefícios, mesmo
que tivesse de pagar por eles, mas sem o ônus de serem proprietárias dos
geradores desses benefícios.
É essa noção que está na
base da concepção de empresas como Uber, Airbnb, Bla Blá car, Ifood, entre
outras tantas.
Essa compreensão anda na
contramão de uma das ideias mais basilares do nosso modelo de organização
econômico-social: a propriedade. Por outro lado, abre perspectivas de negócios
interessantes como os co-workings (do qual falaremos mais adiante), co-cookings,
e todo o mais que possa ser compartilhado e comercializado.
Aliás, no cerne da noção
de compartilhamento está uma ideia também disruptiva. A de colocar em
circulação toda e qualquer riqueza que possa estar sem uso ou subutilizada.
Vagas no transporte privado, quartos ou camas para hospedagem, cozinha
industrial, galpões e máquinas, escritórios que só são utilizados parte do
tempo. Pessoas com tempo disponível que podem passear pets, cuidar de crianças
ou executar tarefas em seu tempo ocioso. Toda e qualquer riqueza, ora ociosa ou
subutilizada, pode ser compartilhada.
Plataforma
Mas nem sempre é fácil
colocar tais riquezas em circulação e tirar delas algum rendimento. A ideia de
plataforma vem justamente para facilitar esse processo. As plataformas como
Mercadolivre, Getninjas, Enjoei, OLX, e mesmo as internacionais Amazon, Shopee
e Ali possibilitam a comercialização de riquezas subutilizadas.
As plataformas, por
concepção conectam quem tem algo a oferecer e quem está procurando.
Intermediando os negócios, oferecendo soluções de pagamento e, por vezes,
logística.
Não são meros
atravessadores, mas em muitos casos parceiros e facilitadores. Apoiadores para
que a pessoa possa alavancar seu negócio. Eles também têm interesse no seu
crescimento, pois também é o crescimento deles.
Em algumas plataformas há
a figura do afiliado. Um papel que colabora na divulgação do produto
para que este ganhe em escala, gere mais resultados do que o teria apenas com o
empenho do vendedor e da plataforma e todos ganham com isso.
Mas as plataformas também
rompem com outra característica histórica de nossa organização social: a desconfiança.
No início da formulação
do nosso modelo de organização econômico-social foi concebida a noção de
contrato social. Pensadores do porte de Rousseau, Locke e Hobbes formularam
essa ideia, cada qual a seu modo. Mas, no interior de todas elas, era presente
a ideia de desconfiança. O homem é lobo do homem, dizia Hobbes. Mesmo nos
nossos dias os nossos contratos primam muito mais para nos proteger de
eventuais possibilidades de sermos lesados. O mesmo ocorre para todos os lados
envolvidos.
Nas plataformas vigora a confiança.
Se você tem uma casa e pretende locar um quarto ou uma cama, sabe que uma
pessoa estranha irá entrar na sua casa. Ou no seu carro, no caso de um Uber ou
Blá blá car.
Para contornar essa
dificuldade as plataformas costumam colecionar depoimentos das transações
realizadas por ela. Depoimentos positivos oferecem maior garantia, os
negativos, maior risco.
Se o acesso e o
compartilhamento rompem com a ideia de propriedade privada, a plataforma rompe
com a de desconfiança. Conjuga novos tipos de relação de parceria e cooperação.
Menos de competitividade.
Crowdsoursing
Tem crescido também outro
modelo de compartilhamento de um tipo determinado de riqueza que no mundo
corporativo foi pouco utilizado ao longo de sua história: as ideias e soluções.
Esse tipo de compartilhamento foi batizado de crowdsourcing. Quando muitas
cabeças são provocadas a encontrar uma solução ou quando muitos cooperam para o
benefício de todos.
Alguns negócios ou
plataformas foram concebidas a partir desse tipo de noção. O Waze, o Google
Maps, o Wikipedia funcionam a partir dessa ideia. Qualquer usuário pode
notificar um acidente, um radar de velocidade, uma pista escorregadia em
qualquer lugar. Com isso estará melhorando o serviço prestado pela plataforma
Waze ou Google Maps. A rigor, estará trabalhando sem receber ($) nada por seu
trabalho. Mas então por que fazer? Porque todos acabam ganhando com isso. Essa
é a estratégia por traz do crowdsourcing. Aproveitar a oportunidade ou a
genialidade de muitos para benefício de muitos e não apenas privado.
A genialidade das pessoas
historicamente foi subutilizada no mundo corporativo. O que se exigia era que o
colaborador desse conta de sua atividade fosse ela braçal ou intelectual. Mas,
muitos poderiam oferecer muito mais do que era remunerado. Sobretudo as ideias
de colaboradores operacionais eram preteridas. Por vezes, informações valiosas
ficavam apenas nas mentes dos operários ou eram compartilhadas sem obter a
consideração devida.
Com o ganho de agilidade
proposto por arquiteturas organizacionais e mesmo com o empoderamento de
equipes autogerenciadas, os profissionais operacionais podem ganhar voz tática
ou estratégica dentro da organização.
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