Planejamento!


Certa feita estava ministrando um curso de liderança e abordando a importância do planejamento, quando um dos participantes me interpelou com a pergunta: por que os planejamentos falham? Parecia ser uma daquelas perguntas típicas para derrubar o palestrante. Uma pergunta no intuito de suscitar polêmicas e controvérsias apenas para checar o peso do alforje do instrutor. Claro que o participante em questão já tinha em seu arsenal umas três ou quatro respostas consideradas por ele justas e para outras tantas refutações implacáveis, mas creio que ele não esperava por uma resposta tão avessa. Na época meu projeto de mestrado ainda estava em patamar embrionário, mas já tinha algumas convicções a respeito do previsível e do previsível.
Vale destacar que vivi cerca de 30 anos de minha vida em ambiente empresarial e em funções de planejamento. Fora o que seja talvez uma competência nata também tive a oportunidade de acertar e errar em inúmeras oportunidades de planejamento o que também me conferia uma experiência nada desprezível. Contudo minha resposta foi tanto direta quanto inesperada, dada o semblante do inquiridor ao ouvi-la: Minha resposta foi, ao que me recordo, algo parecido com isso: todo planejamentos está fadado a falhar! E quando acertam é meramente fruto de um golpe de sorte!
A polêmica se instaurou, pois talvez muitos dos participantes nutrissem a secreta esperança de que um curso ou outro a mais os tornariam infalíveis em seus planejamentos. Assim, ou o instrutor estaria redondamente errado ou cairia por terra uma grande porção de esperanças, tanto quanto um dos maiores motivadores para o participante estar exatamente ali sentado me ouvindo. A conseqüência dessa afirmação, se analisada ingenuamente, seria a de que não vale a pena investir em planejamento, uma vez que ele está fadado ao fracasso.
Caberia a mim agora lidar com o imbróglio no qual havia me metido. Mas minha resposta não era ingênua, senão fruto de uma longa experiência prática no assunto aliada justamente à minha pesquisa de mestrado. Ora, um planejamento é algo que visa antever um resultado futuro qualquer. Com a maior precisão possível, Com o menor empenho e custo possível. Com o menor dispêndio de recursos possível. Planejamento também envolve uma série de ações para se obter os resultados. Essas ações podem ser executadas por pessoas com mais ou menos prática ou talento para executá-las. Cercada ou não de métodos eficazes obtê-los. Com mais ou menos estratégias para lidar com contingências. Tudo isso com mais ou menos experiência em planejamento torna-se dado previsível. E persegue-se sempre o maior grau de maturidade na intenção de se antever o maior número de situações variáveis no intuito de prever tudo o que é passível de previsão. Contudo não há como prever se o indivíduo que irá executar uma das atividades mais preponderantes dentro do planejamento irá ter uma diarréia, ou se seu filho acabará tendo uma luxação no pé ou uma forte gripe ou mesmo se o marido da babá do seu filho sofrerá um acidente. Mesmo que se coloque certa margem de erro no planejamento 10, 15 ou 20%, ainda não temos como lidar com o inusitado, com o imponderável. Ele sempre irá assaltar todas as tentativas de previsão e é bom que assim seja!
Por outro lado, não cumprir o planejado soa sempre como fracasso punível com reprimendas ou até demissão. Têm-se que o fracasso no planejamento é sempre fruto de incompetência. Quer seja no planejamento ou na condução do processo e buscam-se os culpados para jogá-los ao rio feito bois de piranha. Errar em não prever ingenuamente eventos altamente previsíveis, de fato pode ser considerado um erro, mas uma coisa é versar sobre obviedade do fato depois de ocorrido outra é prevê-lo antes do acontecimento. É que ainda vigora a crença de que o imprevisível somente o é por ignorância ou incompetências. Nascemos e crescemos acreditando no plano, no modelo, no sucesso e sob a ameaça do fracasso. Contudo efetuar apenas o que foi planejado, seguir o modelo é apenas repetir o passado querendo obter algo novo. Insano! Analisar o erro pode levar um foco de luz para o novo. O Erro pode ser menos horrendo do que parece. O erro pode ser em algum momento o vislumbre do novo ou uma imprecisão do processo até então maquiada pelos esforços anteriores.
Por fim, planejamento é sempre um esforço no sentido de se precaver contra a incidência de fatores altamente previsíveis e reduzir ao máximo o erro na pontaria.
O alvo dá a direção da seta. A nitidez do centro do alvo te permite a precisão. Para se ganhar é necessário acertar o maior número de setas no alvo. Algumas ficaram próximas e te ajudarão a calibrar o arco. Exercitar, exercitar e exercitar. Só assim a maestria será alcançada e voce será um grande arqueiro! Ficar esperando o melhor arco, o melhor alvo e que não haja vento torna-o limitado em sua precisão. Aprender a lidar com fatores que voce não pode controlar, te dará a flexibilidade necessária para atingir uma andorinha em pleno vôo.

Comentários

  1. Olá!
    Muito bom o artigo caro colega, mas dizer que no relacionado ao planejamento, "quando acertam é meramente fruto de um golpe de sorte!", não lhe parece apenas uma frase de impacto?
    Filosoficamente falando,a essência da questão não estaria justamente na visão do planejamento como o que não é?
    Somos falíveis e finitos. Como coloca em seu artigo, um plano estará sempre sujeito a ínumeras variáveis, algumas previsíveis, outras imprevisíveis e outras ainda inviáveis de se considerar.
    É lógico esperar que ao trilhar o caminho planejado ocorrerão imprevistos, trocas de estratégias, adaptações, influências humanas, mas tudo isso ocorre inclusive na ciência e no mais puro método empírico.
    Quanto maior for nossa consciência de nossa limitação de previsão, melhor tenderá a ser o resultado. O erro decorre muito mais da certeza do que da dúvida, de desejo do que de análise.
    Quero dizer que se alguém planejou algo com o desejo de realizar maior do que a capacidade crítica e do que sua consciência de realização, é mesmo sorte acertar, mas se, ao contrário, considera a possibilidade do erro, da interferência e do devir, ora, parece-me mérito.
    Abraço
    ichmarketing.blogspot.com

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  2. Escrevi um artigo sobre pesquisa, que de alguma forma está relacionado ao tema. Talvez as maiores variações que ocorrem em um planejamento sejam resultado justamente das variáveis que influenciam o levantamento de dados.
    Talvez se interesse: http://ichmarketing.blogspot.com.br/search/label/Pesquisas
    Abraço

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  3. Excelente colocação, meu caro. E o objetivo era exatamente esse, ser uma frase de impacto, mas não meramente isso. É que nas corporações, o insucesso é, com freqüência, reputado à incompetência das pessoas que viabilizam o que foi planejado. Buscam-se culpados e para não ser quem elaborou o planejamento, normalmente de uma hierarquia superior, fica mais fácil conseguir justificativas noutras paragens, mas não se questiona o potencial do planejamento. Sua colocação é precisa quando diz que o erro ocorre mais na certeza do que na dúvida. É que a certeza é inimiga da criação e do imponderável. O post busca ressignificar a ideia de planejamento e inserir dentro desse contexto o dimensão do imponderável. Planejamento será sempre uma busca, mas nunca uma certeza. Se pensarmos para além da relação acerto-erro que sempre pressupõe uma referência ao passado, poderemos nos abrir à novidade do presente. Mas esse assunto é longo, sobre isso escrevi mais de cem páginas em minha dissertação de mestrado, justamente falando sobre o inusitado. Sobre o que é passível de previsão e o que não é.
    De qualquer modo fico feliz com o debate e comente sempre. Quem sabe outros leitores também possam contribuir.
    Grande abraço e certamente lerei seu artigo

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  4. Perfeito caro Jadir,
    Um pouco de teoria do conhecimento e de análise da metodologia científica talvez possam contribuir para um maior esclarecimento do tema, que como diz o assunto é longo. O que talvez até tenha abordado em sua dissertação.
    Conte com minha participação, ingressei no curso de filosofia depois de já atuar como consultor justamente por acreditar nas possibilidades de troca entre uma e outra área do conhecimento. É um assunto que me interessa.
    Abraço

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  5. Pegou bem o espírito da coisa. Lançar um foco de luz (teoria do conhecimento) sobre algumas "verdades dogmáticas" que imperam no meio corporativo.

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