Higiênicos e descartáveis
Por (Jadir Mauro Galvão)
Ainda temos oportunidade de ver em algumas casas mais antigas a presença
hoje pouco usual do bidê. Muitos
podem perguntar para que serve essa estranha
peça de louça ao lado do vaso sanitário no mais das vezes utilizada de modo
variável, dependendo da criatividade ou necessidade do morador. Pode parecer
brincadeira para os mais jovens, mas o uso do papel higiênico só ganhou maiores
proporções bem recentemente. Em tempos idos (mesmo com muito frio!) após nossa reflexão diária, os resíduos ainda
restantes eram lavados com a água desse estranho objeto. Diga-se de passagem, atitude
bastante higiênica.
Foto de Max Rahubovskiy: https://www.pexels.com/pt-br/foto/apartamento-banho-banheira-banheiro-6585755/ |
Do ponto de vista da limpeza e da praticidade a troca foi sobremodo vantajosa. Embora produzam um bom tanto de lixo não reciclável, pelo simples fato de serem feitas de papel, estão hoje na vanguarda da tecnologia por serem biodegradáveis. Do ponto de vista econômico, mais interessante ainda, pois, que indústria não quer vender um produto de rápido consumo e urgente reposição? O aspecto menos favorável poderia ser a matéria-prima, o papel, mas, com a atual tecnologia utiliza-se papel reciclado, o que o torna pouco agressivo à natureza. Cria-se então um grande símbolo de sucesso sob todos os aspectos.
Na esteira desse sucesso, outros itens adotam a mesma estratégia
descartável, pinçando a ideia do prático, mais do que do higiênico. Pratos,
copos, talheres, fraldas, potes para mantimentos, entre outros tantos itens,
tornam nossa vida contemporânea bastante mais rápida. Mesmo a emancipação da
mulher é um grande aliado desse movimento. Não há mais que se dedicar tanto
tempo a lavar louças ou paninhos absorventes, basta sua utilização e imediato
descarte. Contudo esses itens não têm a mesma característica biodegradável.
Alguns até podem ser reciclados, mas outros se tornam lixo de difícil
decomposição na natureza, mas só nos atentamos para esse fato após o longo
tempo necessário para adquirir o hábito de utilizá-los.
Mesmo a indústria de alimentos aderiu rapidamente ao descartável
adaptando suas linhas de produção, fornecedores e logística. Voltar atrás nessa
iniciativa exigiria outro tanto de investimentos. A reciclagem é uma boa
alternativa, mas não tão facilmente assim. Plástico pode ser reciclado, mas os
restos de alimento precisam ser retirados e, enquanto isso, não ocorre os
resíduos de algumas embalagens contaminam outras mais limpas exigindo que todo
o material seja bastante bem lavado antes da reciclagem, onerando bastante o processo.
Outro ponto negativo é que o plástico, uma vez descartado, não pode ser
reaproveitado como embalagem de alimentos novamente. Isso exige a constante
entrada de material novo nessa cadeia extraído da natureza. Também podemos
observar que nem todos têm o cuidado de descartar seu lixo de modo adequado, e
muito do que poderia ser reciclado acaba tomando outro rumo e chegando a
bueiros e, depois, a rios. Observando esse fenômeno meramente do ponto de vista
econômico, é bastante atrativo. Produtos descartáveis são um ótimo meio de
manter um alto nível de faturamento e mercado.
Foto de Daniel Norris na Unsplash |
Timidamente e ecologicamente algumas indústrias retomam o uso de
embalagens de vidro, que podem ser reutilizadas várias vezes, recicladas e
novamente serem utilizadas para os mesmos fins, refreando a agressão a
natureza, mas isso exige um transtorno adicional do consumidor, que deve
retornar a embalagem vazia ao produtor. O problema maior está em que outras
tantas indústrias gostaram da ideia de manter seus faturamentos em níveis artificialmente
elevados a custa de produzirem produtos que acabam logo e precisam de reposição
rápida: roupas, sapatos, geladeiras, fogões, ferros de passar,
liquidificadores, televisores, computadores, carros... Uma imensa quantidade de
itens que tiveram seus processos produtivos, e matérias-primas modificados por
essa ideia e que podem não estar dispostos a retomar hábitos mais saudáveis de
produção sob o iminente risco de perderem a competitividade no mercado. Para
esses, talvez caiba a nós consumidores um transtorno adicional do processo de
higienização e descarte dos produtos ou quiçá dos próprios produtores.
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