Equipes autogerenciadas
Por Jadir Mauro Galvão.
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Equipes autogerenciadas
Grupos
de trabalho: O nascimento do capitalismo marca ao
mesmo tempo outro fenômeno que lhe é traço distintivo: a divisão do trabalho.
Marx acreditava que esse traço era alienante, já Adam Smith dizia que aumentava
a produtividade e ao mesmo tempo a riqueza das nações. Fato é que a divisão do
trabalho foi necessária e importante para que pudéssemos conduzir o momento da
história, da humanidade e do trabalho aos patamares de abundância atual. Poucas
são as atividades que hoje podem ser realizadas por apenas uma única pessoa e
que consiga tirar dela seu sustento. Mesmo no caso de artesãos que extraem sua
matéria prima, confeccionam sua arte, vão precisar de alguém que dedique tempo
e esforço para sua comercialização em maior escala para que este possa se
concentrar o quanto puder ou quiser de tempo apenas em sua arte. Seja um
comerciante, uma cooperativa ou mesmo alguém que cuide da loja comercial.
O nascimento do
capitalismo produziu também um êxodo rural e mesmo os artesãos foram afetados
na medida em que a indústria produzia muito mais e em menos tempo o mesmo que
este produzia artesanalmente e dentro do seu tempo disponível. Não dava para
competir em preço, nem em quantidade. Qualidade podemos discutir, mas teremos
de colocar na conta também a uniformidade dos produtos.
Nas fábricas era possível
operar as máquinas que ajudavam a fabricar calçados ou peças de vestuário,
mesmo quem não eram sapateiro ou alfaiate. Precisava apenas aprender a manusear
a máquina. Com isso, grupos de pessoas conseguiam produzir artefatos que
sozinhos nenhum deles seria capaz.
Max Weber em seu texto A
ética protestante e o espírito do capitalismo, dava conta de que um artesão
comum trabalhava por dia não mais do que 3 a 4 horas. As outras se passava em
tarefas domésticas ou mesmo na taberna com amigos. Mas nas fábricas havia a
figura do chefe ou do supervisor que ficava de olho nas atividades de cada um
dos trabalhadores e se incumbia de chamar a atenção ou lançar-lhe um olhar de
reprovação, caso se mostrasse indolente. Ademais, com a divisão do trabalho, a
lentidão de um era um entrave ao trabalho e à produção de outros tantos.
Todo o grupo de
trabalhadores era supervisionado para que se tirasse o maior resultado das
horas de trabalho que eram pagas e ocupavam a máquina, também onerosa. Uma
hierarquia de comando e controle foi criada para ganhar a produtividade
pretendida da indústria. E o homem (também mulheres e muitas vezes crianças),
suas vontades e sua rotina tiveram de se adaptar aos rigores do trabalho
fabril. Grosso modo as pessoas serviam as fabricas e delas tinham uma das
poucas formas de sustento para a época.
Com o tempo foi-se
desenvolvendo uma burocracia administrativa que tinha como privilégio apenas
não ficar preso às máquinas, aos ruídos e mesmo a insalubridade de algumas fábricas,
mas no tocante a ter um supervisor, horas a serem cumpridas, produtividade e
metas a serem atingidas era o mesmo. E mesmo aos rigores da supervisão.
Controles rígidos de horário e de produtividade na mesma medida.
Bem ao estilo cartesiano,
as tarefas eram divididas em tantas partes quanto fossem necessárias para se
ganhar a máxima produtividade e, se cada “parte” estivesse bem controlada,
assim também o todo estaria. Desse modo, bem um século foi cumprido dentro
desta mesma toada.
Mas pouco a pouco, estudo
científicos e mesmo postulados teóricos começaram a questionar o modelo
administrativo levado a ferro dentro das organizações. Desde o meio do século
XX e acentuadamente ao seu final emergiram dois outros paradigmas que transformaram
o modo como fazemos as coisas.
O modelo Complexo
pensado por nomes como Edgar Morin, Fritjof Capra entre outros começou a
postular que o todo é mais do que a mera soma das partes. O modelo de Sistemas
desenvolvido a partir da inserção dos computadores, cada um pensando a seu modo
chegavam a essa mesma conclusão. Rompia-se, com isso, a hegemonia do modelo
cartesiano.
Equipes
Fundada nesse novo modo
de olhar, a administração começou a pensar na ideia de Equipes. Não mais apenas de um grupo de trabalho, mas
em equipes que podiam ter características complementares. Ou mesmo tarefas
complementares atuando em conjunto. Percebeu-se que a produtividade crescia com
o mesmo número de pessoas. Agora atuando em conjunto, de forma complementar,
cooperando, não necessariamente competindo.
Modelar processos a
partir dessa perspectiva acelerava o ganho de produtividade ao mesmo tempo em
que reduzia a necessidade de comando e de controle.
As equipes criavam uma
sinergia própria que acabava por provocar uma atmosfera de produção com menos
tensão. Era bom para a organização e bom para as pessoas.
O cronograma absorveu o
papel do supervisor. Era ele que apontava para todos o estágio de execução e
mesmo se havia algum gargalo que precisasse ser socorrido.
Até o layout das
organizações podia ser modificado. Aproximando a equipe e retirando a figura do
supervisor. Não retirando deste o comando, mas o posto estratégico que permitia
supervisionar. Podia ficar mais distante e circular de quando em vez, apenas
para se fazer notar.
Só mesmo uma complexidade
para nos fazer entender como uma equipe com um mesmo número de pessoas e sem
ninguém cobrando podia produzir mais e não menos ou igual.
Equipes
Recentemente, algumas
organizações mais modernas e que não se fiavam nos sucessos anteriores
apostaram em equipes autogerenciadas. Certos trabalhos mais criativos não têm
como ficar cobrando produtividade. Precisam de uma certa espontaneidade para
despertar e isso não é uma cara feia que pode produzir. Alguns gestores
apostaram em delegar o comando, abrir mão do controle e atribuir certas
decisões operacionais para as pessoas e mesmo a tolerar eventuais erros, na
medida em que estes podiam ter um funcionamento pedagógico. Permitir-se
aprender com o erro. Saber perceber o cheiro do erro onde quer que esteja. Esta
é uma qualidade que só se aprende na prática, errando. Talvez faltasse para
muitos apenas um empurrãozinho para despertar uma proatividade e um comando
próprios.
Empresas como a Google, e
outras apostam em equipes automotivadas e autogerenciadas. A Buurtzorg, empresa
holandesa nasceu com essa ideia e replica para todos os lugares onde atua. A
Valve Corporation adota uma liderança situacional sem hierarquia e equipes
autogerenciadas. No Brasil, muitos bancos adotam metodologias ágeis, onde
figura o “owner”, o dono do projeto (não das pessoas). Cabe ao owner conduzir o
projeto e atingir as metas que ele propõe. Mas não cabe demitir, nem apontar
culpados, mas sinalizar onde as coisas não estão funcionando, os gargalos para
que a própria equipe se auto-organize e consiga atingir as metas.
A Gerdau, tradicional
empresa brasileira, resolveu se tornar mais ágil e se reinventar como
organização. Propôs tal desafio para seus próprios colaboradores e acabou por
adotar equipes multidisciplinares e autogerenciadas. Por fim obteve bons
resultados dessas iniciativas.
Metodologias
ágeis
Desde que foram
concebidas as metodologias ágeis, rompendo com a ideia de grandes projetos que
levavam anos para serem confeccionados e em partes nasciam obsoletos sem contar
com as mudanças nas estratégias, no mercado ou mesmo no negócio, as metodologias
ágeis foram se alastrando em muitas paragens.
Nem sempre honrando seus
preceitos mais fundamentais, mas oferecendo mudanças interessantes.
Concentrando-se mais na flexibilidade e nas pessoas do que nos planos e nos
contratos, a agilidade, inicialmente concebida para projetos de desenvolvimento
tecnológicos hoje podem ser adaptados para outras finalidades que não sejam de
Ti.
O aprendizado com o erro,
as celebrações, as pessoas como mais importantes que os processos e mesmo as
documentações. A agilidade se tornou grande aliada da produtividade e da
flexibilidade.
Cá e acolá espocam
iniciativas na direção da agilidade e as equipes autogerenciadas têm sido uma
excelente opção. Mas, nem tudo são flores. Pessoas forjadas e socializadas
dentro de organizações de comando e controle. Que tiveram suas iniciativas
tolhidas e suas ousadias punidas, experimentaram na pele e acabaram doutrinadas
no espírito de controle e comando. Para estas o reaprendizado será um tanto
mais dolorido. Terão uma maior resistência e relutarão em assumir
responsabilidades, tomar decisões, assumir riscos, ousar, errar.
Mesmo líderes, ou melhor,
chefes, vaidosos de seu poder e controle experimentarão da mesma relutância em
abrir mão do controle. Acreditarão que sua importância vem dele. Que seu poder
depende dele. Aprendeu a não confiar na decisão do outro, a não confiar na
iniciativa do outro. A confiar apenas no seu controle. Este terá enorme
dificuldade em aceitar decisões não tomadas por ele. Mesmo que se mostrem boas
decisões confiará mais no acaso do que na competência de sua equipe. E quando
sua equipe não precisar mais dele para tomar decisões, talvez não saiba mais
como se encaixar no processo.
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