Cada um tem sua verdade?

Cada um tem sua VERDADE?

Esta é uma pergunta tão antiga quanto polêmica. Hoje em dia, ainda muitas pessoas pensam que cada um tem a SUA verdade, o que nos remete a um relativismo ou subjetivismo que eu diria, no mínimo comprometedor, embora comum.
Os tempos de ditadura militar foram duros, mas uma de suas heranças foi a falta da vontade do debate, a falta de um posicionamento, até porque se posicionar em tempos de ditadura era muitíssimo arriscado.
A falta de vontade de promover um debate de idéias, onde o que se debate são as idéias e não os debatedores. Onde não temos vencedores nem vencidos, mas uma oportunidade de aprendizado mútuo. Onde eu não precise mudar minha posição, nem pretenda convencer o outro de que eu estou certo, mas aproveitar a oportunidade para aclarar quais são os pontos que fundamentam a minha opinião e quais conseqüências minha opinião pode gerar. Conseqüências que já posso ter pensado ou conseqüências que só vou pensar a partir da oportunidade do debate. Robert Dilts costuma dizer que se eu dou um dólar(ele é americano) para uma pessoa e esta mesma também me dá um dólar, eu continuo com a mesma quantia ao final da troca, mas se simultâneo a isso eu ainda dou uma idéia para o outro e este me oferece a dele, no final eu tenho duas idéias(mesmo que não as utilize) e ou outro também.
Sobre este assunto devemos também abordar os sempre vizinhos do debate: A Sra. Tolerância, e o Sr. Respeito. Num determinado instante nos sentimos fustigados a despejar os dejetos da nossa falta de argumentos no quintal do Sr. Respeito, o que seria um insulto, embora este possa afagar nosso ego e desonerar nossa razão, mas ouvindo os conselhos da Sra. Tolerância, amargamos um fracasso de argumento, muito embora este possa se tornar uma vitória do crescimento.
Mas se eu sempre ouvir os vizinhos de um lado, posso maltratar os do outro lado: O Dr. Desafio e o Prof. Crescimento.
O argumento: “...esta é minha opinião!”, ou o “...isto pode estar certo na sua opinião!”, encerram a discussão sem vencedores, apenas vencidos. E somos convidados a acompanhar o funeral do Sr. Aprendizado.
É importante o desafio até para que o outro(ou eu mesmo) tenha a oportunidade de pensar melhor nos pressupostos que sustentam suas opiniões(se é que sustentam!).
Não conseguimos discernir de forma adequada o certo do errado. O certo vira errado(mas é minha opinião), o errado vira certo(porque para mim e certo).
Discussão sobre futebol, pouco ou nada adianta, pois o argumento definitivo é, tão somente, a paixão, mas ao contrário do que a maioria pensa, debater sobre política(principalmente), sobre religião, filosofia, sociologia, antropologia e outras tantas logias, pode ser muito esclarecedor, desde que o debate se faça de forma sadia, amistosa, com argumentos conseqüentes, sustentados por premissas verdadeiras onde a paixão se faça presente na paixão pelo debate e não na ânsia da vitória.
O debate fortalece as relações. A falta de debate enfraquece a ética. Corremos o risco de ouvir(ou de falar): “...se o outro não faz pois não acha que é certo, por quê EU devo fazer?”.
Nesta época de crises éticas, de corrupção, onde o errado vira MEIO-CERTO, é preciso resgatar o valor do universal, onde bom senso não é refém de julgamentos privados, do tipo meu bom senso, seu bom senso.
Na Grécia antiga haviam as figuras dos filósofos e dos sofistas. A diferença é que os filósofos buscavam a verdade em si, o bom em si, o justo, o correto e os sofistas buscavam a argumentação retórica do convencimento, da persuasão, sem compromisso algum com a verdade. O importante era o convencer, o persuadir mesmo que a argumentação fosse recheada de falsidades ou truques de retórica. As até hoje ditas falácias.
O primeiro debate deve ser o interno, o particular. Pergunte-se sobre quais são as premissas que sustentam suas opiniões. O que leva você a acreditar nas coisas que acredita? A primeira resposta fica no óbvio, ou seja tudo aquilo que já se pensou, mas não pare por ai. Não se convença com pouco. Vá mais fundo. Pense no que ainda não foi pensado. Depois parta para as conseqüências de suas opiniões e de novo vá além do óbvio. Pense no que ainda não pensou.

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