Eu fiz minha parte!

Grande parte daquilo que nos parece óbvio hoje, foi objeto de discussões filosóficas seculares. Poucos sabem disso, mas dois séculos de discussão foram precisos para que hoje nos apresentassem um objeto qualquer e de pronto perguntássemos: “Para que isso serve?” Esta é a evidência da vitória de uma doutrina filosófica chamada “Utilitarismo”. Doutrina filosófica que apregoava que bom e ético é tudo aquilo que é útil. (Mas ética é isso?!?)
Outra expressão ainda é corrente: “Eu fiz a minha parte!”. Karl Marx, há mais de um século nos alertava para as dificuldades da divisão do trabalho. De que adiantaria o produto do trabalho de um artesão especialista em fivelas se não fossem feitos os cintos ou bolsas? Há, com a divisão do trabalho, uma desvinculação natural do trabalho individual, com seu produto final. Cada pessoa somente se vê comprometida, responsável, com a “sua” tarefa, perdendo a dimensão do todo. Grandes organizações necessitam repartir tarefas pois uma única pessoa não conseguiria dar conta de todas as atividades. Sequer teria conhecimento suficiente para tal. O lançamento de um novo produto, precisa de profissionais de propaganda, de informática, de embalagens, de infra-estrutura, de distribuição, logistica, mas não adianta nada cada um fazer “sua parte”. Se uma roda não roda, a máquina não roda. Se uma roda, roda sem que a máquina rode, ela não faz parte da máquina. Esta é uma analogia comum nas grandes empresas, a comparação de pessoas a engrenagens industrializando nosso cérebro. O pior é que muitas vezes nós assumimos esta metáfora e trabalhamos apenas como engrenagens reclamando que a engrenagem ao lado está atrapalhando o nosso trabalho e por isso não conseguimos rodar.

A idéia aqui é: a divisão do trabalho é necessária, entretanto, equipes auto-lideradas mantém seu foco no resultado, no produto final. De nada adianta ficar girando em torno de sí mesmo, se aquele que está ao nosso lado não está na mesmo frequência. Se continuamos a rodar quebramos a máquina. Se paramos travamos a máquina. Mas nós não somos máquinas, tampouco engrenagens! Somos sêres inteligentes, de relacionamento, de liderança, de ação e de visão. Mas isso requer uma mudança de postura. Assumir responsabilidades, assumir riscos, aparecer. Diferente da postura de desaparecer no conjunto. Uma habilidade digna de camaleão que nos momentos críticos consola sua consciência dizendo: “Eu fiz a minha parte!”. Você não precisa, nem deve fazer tudo, ninguém consegue isso, mas acompanhar, conduzir, comprometer-se, apoiar, perguntar, são verbos úteis e éticos. Claro que nem todas as atividades tem em sí, visível, um valor, uma importância digna de tal comprometimento, desprendimento e empenho, mas o fato de existir um monte de coisas erradas ao nosso redor não deveria ter a capacidade de fazer-nos errar também, tampouco de justificar nosso erro. Mas motivação e propósito são assuntos para outra matéria.

Jadir Mauro Galvão 09/09/2009

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