Perseguimos ilusões, colecionamos decepções! - I

Uma das grandes dificuldades que experimentamos em nossa vida é a decepção. Decepção nada mais é do que a obtenção de um resultado que fica muito longe do que esperávamos conseguir. Em sua maciça maioria a dificuldade reside somente na expectativa! Muito mais do que temos consciência, como bem mais do que estaríamos dispostos a admitir, uma grande parcela de nossa vida está encoberta por uma densa névoa de ilusões que transformam muitas de nossas expectativas em coisa totalmente inatingível. O problema é que são ilusões coletivas e sendo assim acreditamos que sejam realidades. Buscamos a tão sonhada felicidade, o bem estar; almejamos o equilíbrio, queremos um relacionamento perfeito; lutamos por justiça, tanto quanto combatemos a violência. Tudo isso parece fazer muito sentido para a grande parte das pessoas, mas tudo isso que acabei de dizer são profundas ilusões!

Buscamos a felicidade a nem sabemos o que ela é, nem como ela é. Muitos crêem tratar-se de ausência de dificuldades. Gostaríamos que nossa vida fosse um eterno amanhecer de primavera. O mundo não é assim! A natureza não é assim e isso não é natural. Quiséramos paralisar os momentos bons, mas eles insistem em ir embora. Contudo, podemos querer parar o que para nós foi uma vitória nem sequer percebendo que o mesmo fato foi para outros tantos derrota. Para esses a paralisação seria cruel!

Buscamos o bem estar, mas não percebemos que muitas vezes o conforto nos aprisiona. Durante séculos a ciência buscou prever os acontecimentos e nos cercar de conforto. Criamos um ambiente aquecido, seco e livre das incertezas da natureza e passamos a admirar os encantos da natureza pela televisão. Não percebemos que todo o conforto transformou-se para a maioria em confinamento.

Buscamos o equilíbrio sem nem sequer entendermos que equilíbrio é mais que uma palavra ingênua é uma atitude perigosa! Sim! Para ir até algum lugar precisamos andar e andar nada mais é do que uma sucessão de desequilíbrios e reequilíbrios. O equilíbrio mesmo, nos mantém parados. Só ficamos em equilíbrio quando estamos parados! Muitos dirão: mas não é esse tipo de equilíbrio que estou falando. Respondo: Sempre que estamos falando em equilíbrio, por exigência da coerência até inconsciente da palavra com a atitude que ela encerra ou temos paralisia ou desequilíbrios e posteriores reequilíbrios.

Queremos um relacionamento perfeito e logo imaginamos tratar-se de o outro tolerar minhas falhas, de ouvir pacientemente minhas queixas sem se queixar delas. Peraí! Isso beira a loucura! Não sei quem inventou essa coisa de relacionamento, mas quando o fez, fez um negocio bem direitinho. Nossas maiores dificuldades, nossas maiores resistências, nossos maiores abacaxis vem à tona e aparecem mais claramente nos nossos relacionamentos mais caros. A pessoa que amamos também é a pessoa que mais conhece nossas falhas bem como nossas fragilidades e usa deliberadamente cada uma delas. O que seria muito cruel se no fundinho não fosse feito (com ou sem consciência) para o nosso bem. Por outro lado foi colocado dentro de nosso coração um grande amor por essa pessoa e nela por nós. Não fosse por esse motivo e seria apenas guerra.  Não fui eu que fiz assim, mas qualquer um que prestar um pouco de atenção verá que: Todo relacionamento pressupõe conflito! Harmonia nos relacionamentos como a maioria imagina não existe e não pode existir. O oposto do amor é a indiferença completa e não o ódio. Ódio é somente o outro lado da mesma moeda.   

Lutamos por justiça sem perceber que esse é um dos maiores absurdos lógicos. Somos todos iguais perante a lei! Certo? Isso quer dizer que mesmo sendo cada um de nós indivíduos totalmente diferentes uns dos outros sobre quase todos os aspectos, a lei nos exige a mesma conduta. Justo é o que se ajusta, o que se amolda a cada indivíduo, mas a lei é manequim 44. Para uns ficará apertado, para outros largo demais. Onde está a justiça disso? A lei da natureza sim. O sol joga seus raios sobre nós do mesmo modo e cada um que reaja a ele ao seu modo. Ele se ajusta e não nos pede para agirmos de um modo ou de outro. Seus raios se ajustam a nós e não nos pedem a mesma resposta. Cada um que responda ao seu modo.

Temos de combater a violência! Essa é sem dúvida a minha preferida. Como se combate a violência se não produzindo mais violência. Dirão: não é bem isso, nos reprimimos a violência! Com mais violência? Mas como tratar então com esses bandidos? Será que são “bandidos” ou apenas deserdados sociais? Não seria preciso caridade se todos tivessem oportunidades que a eles se adequassem!

Ficamos hoje por aqui, mas queríamos antes ressaltar que precisamos rever alguns conceitos para verificarmos e atestarmos sua real validade. Sem o que estaremos agindo e perseguindo apenas palavras, miragens de idéias.   

Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Organograma!

O nascimento do pensamento contemporâneo:

Modelagem de processos em arquitetura organizacional