Entre o objetivo e o percurso!

No mundo dos negócios fala-se muito em projeto. Até em nossa vida pessoal usamos esse mesmo termo. Dizemos: projetos pessoais - para distinguir dos projetos que experimentamos dentro das empresas. A característica fundamental do projeto é que ele tem início, percurso e fim. Nada mais simples! Claro que o ponto fundamental do projeto é o fim. O projeto só existe por causa dele; é o fim que se busca; ele é o ponto de encontro de todos os esforços, é o que dá a direção para todos os envolvidos; é o que oferece o sentido de todas as ações a ele alinhadas. Olhando desse modo, o percurso é meramente a distância, quando não, o obstáculo que nos separa do fim. Dito de outro modo, ele é o preço a pagar para atingirmos o que queremos.
Para minimizar os efeitos do percurso – para encurtá-lo ou cumpri-lo no menor tempo possível -, usamos o nosso tão conhecido planejamento. Nele serão definidos os papéis, a divisão de tarefas, as atividades, e os - também muito conhecidos - check-points para verificar o andamento e os desvios de rota; os pontos de gargalo ou de risco. Estabelecemos todo um cronograma (Opa! Este também conhecemos!) de atividades e seccionamos o objetivos em metas. Agendamos reuniões de alinhamento e definimos estratégias de contingência. Conseguimos prever eventuais dificuldades e traçamos um plano de ação no intuito de contorná-los ou ao menos de minimizar seus impactos.
Ocorre que raras vezes teremos ao nosso dispor um time com a heterogeneidade de competências necessária para cumprir os específicos e diferenciados papeis estabelecidos. Pode ocorrer de termos ao nosso dispor excelentes planejadores que são mais morosos na execução. O próprio caráter de planejador já predispõe o indivíduo a uma agilidade para o pensamento, mas nem sempre para a ação. O complexo leque de capacidades do time pode não estar totalmente aprumado com as competências requeridas à consecução dos trabalhos. Isso certamente exigirá certa dose de esforço adicional, quando não, superação individual. Mas isso não é realmente ruim, somente é ruim se os envolvidos não estiverem dispostos a lidar com suas próprias limitações para ir além do já conhecido.
Outro ponto crítico é o embate de vaidades e de medos entre os membros da equipe. Ocorre, com freqüência, sobretudo quando se incentiva a competitividade entre colaboradores. Aquele com uma baixa auto-estima é capaz de “sabotar” os outros, na medida em que se vê em desvantagem na competição, quer seja por produtividade ou pelo crédito de algum acerto ou na eventual culpa por um erro. Em suma, quando o seu colaborador não se sente intimamente capaz vencer um determinado desafio, vai fazer com que ninguém o consiga, sabotando sistematicamente o processo.
Por outro lado é até benéfica alguma dificuldade no percurso. Se seu colaborador não for instigado a progredir, não for desafiado a superar seus limites, se não for orientado a ter objetivos próprios, vai perder a mobilidade, a dinâmica de crescimento e ficar estagnado dentro das paredes de sua própria competência, de sua zona de conforto, isso não lhe proporcionará nenhum aprendizado, nenhuma evolução. Mesmo as dificuldades entre os membros da equipe, podem funcionar como meio de ultrapassar as diferenças. Os conflitos, embora muitos os evitem, fazem parte da vida e nos exige transformação, mudança, superação, numa palavra: crescimento. Ao nos confrontar com as diferenças, sobretudo se não nos restar alternativa de fuga do conflito – o que ao meu modo de ver é ótimo –, os indivíduos em conflitos podem suportar um ao outro deixando armazenado, cada qual dentro de si mesmo, coisas do tipo: mágoa, rancor, ressentimento ou coisa que o valha. Ou simplesmente amadurecer com o processo. Ganhar maturidade em lidar com diferenças.
Esse tipo de crescimento só é possível quando o projeto atinge um nível crítico. Quando tudo está correndo dentro do planejado as diferenças desaparecem, mas a vida real não segue, ela não tem obrigação de seguir nosso planejamento. Não planejamos trânsito congestionado, chuvas torrenciais de verão, filho com febre, ou aquela comida que cai enviesada no estômago, muito embora sejam eventos totalmente previsíveis. E eles insistem em ocorrer mesmo não sendo bem-vindos no cronograma. Mesmo com tudo isso acontecendo os check-points não mudam de lugar dentro do planejamento, tampouco os prazos e as metas. Isso revela o quanto nosso planejamento é, em geral, pouco aderente a própria realidade. Revela também que os conflitos e as dificuldades, embora sejam inoportunas se temos em mente apenas o fim, são componentes naturais do percurso e deixam a maturidade, o crescimento e a evolução como legados preciosos.    
Nosso trabalho, os projetos que nos envolvemos são como que um microcosmo da vida. Mais do que somente uma metáfora é o que é realmente importante na própria vida. Os obstáculos, as dificuldades, as diferenças são o que há de mais natural e corriqueiro. E tudo isso tem um sentido profundo de ser como é. É que nossa postura habitual busca, quase sempre, evitar o conflito, contornar as dificuldades – sem resolvê-las – se esquivar do debates, isto é, burlar a ordem natural da vida. Mas isso não fomenta o crescimento. Não correria nenhum risco em afirmar que as relações mais fortes são aquelas que tiveram a oportunidade de passar pelas mais duras provas. Tanto quanto mais amadurecidos são aqueles que passaram pelos mais duros combates.
Isso nos leva a rever o que realmente é mais importante nos projetos: Será que o importante é o fim? Se voltarmos nossos olhos apenas para o fim, o percurso como sempre é, passa a ser sempre obstáculo. Se mudarmos nosso olhar para a vivacidade do percurso e o percebermos com um modo de aproveitar todas as oportunidades de crescimento que o mesmo pode proporcionar, o fim será recoberto de uma camada adicional de importância, mas o percurso assumirá seu devido posto de primeiro lugar em importância não apenas nos projetos, mas na vida como um todo.

Comentários

  1. Maravilhoso artigo, como sempre..... parabéns

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  2. adorei o artigo! acredito que todo planejamento está destinado a enfrentar problemas e obstáculos...e enfrentá-los com conhecimento, coragem e dignidade é o que nos torna um vencedor! Parabéns!!

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