Criatividade, processos e boas práticas!
Com freqüência lemos em alguma revista especializada ou ouvimos dizer que
as empresas valorizam profissionais
criativos. Por outro lado percebe-se um grande empenho das organizações em
mapear processos e listar e divulgar boas práticas. Nada contra qualquer uma
dessas iniciativas, mas vale dizer que elas se auto-anulam.
Processos
são, bem grosso modo, sequencias de procedimentos repetidas ao longo do tempo e
que mostraram sua eficiência para chegar ao resultado esperado. Boas práticas
são o modo como são executados esses procedimentos como correções,
verificações, check-list’s, que, se bem repetidas, terão a capacidade de
arredondar o processo tornando-o ótimo ou excelente. Contudo precisamos
esclarecer que expectativas, processos e boas práticas são sempre modos de
repetir no futuro algo que “deu certo” no passado. Tanto quanto dar certo é ter
uma expectativa determinada e agir de modo a que se atenda exatamente essa
expectativa e que outras coisas não aconteçam.
Diferente disso tudo criatividade
pode ser entendida de dois modos: Primeiro como algo que é novo por se tratar
claramente coisas que não se assemelham ao antigo e desse modo nunca podemos
ter em mente processos, tampouco boas práticas, pois essas são representantes
da repetição do antigo e segundo criatividade como algo que é completamente
desprovido de expectativas, onde o que impera é a surpresa, isto é, não existe
a comparação nem o contraste com o antigo e ai mais ainda o processo e as boas
práticas nem sequer batem à nossa porta.
Criatividade, sem bem podemos dizer
de modo genuíno, é desprovida de expectativa, ou melhor as expectativas não são
de ordem prática. Permite-se a surpresa e o brilhantismo. Não se pode falar em
fracasso quando tratamos de criatividade, pois fracasso é tão somente a
inadequação do resultado com o esperado. E na criatividade essa inadequação tem
outro nome: surpresa! Claro, a
surpresa pode ser agradável ou desagradável, mas a criatividade é evolutiva enquanto o processo é, quando
muito, generativa. Podemos querer
otimizar o processo, mas só a criatividade nos conduz a outro patamar evolutivo
mais elevado. A otimização do processo pode somente nos levar ao ápice do
patamar evolutivo que já nos encontramos. A criação é um salto! Nõa um salto
quantitativo, mas qualitativo.
Assim, se você, enquanto líder, tem
em mãos realmente um profissional criativo e o coloca para atuar dentro de um
processo e recomenda boas práticas, você está, sem saber, matando o potencial criativo do seu profissional. Senão matando ao
menos amarrando seus braços e pernas. Do mesmo modo se sua métrica de avaliação
tiver por base as mesmas metrificações do processo só enxergará diante de você
uma pessoa medíocre. Dito de modo bem claro: o processo transforma o gênio em
imbecil!
Quando você tem um bom processo e boas práticas bem mapeadas qualquer
profissional mediano é capaz de executá-lo. Contudo, como falamos trata-se de
repetição e, como tal, a repetição assim o é justamente pela falta da surpresa
e a falta da surpresa é sempre enfadonha. Não estranhe se o nível de erros na
condução do processo aumente de tempos em tempos. Não se trata
de incompetência de seus profissionais, mas sim da falta de surpresa. Existem
bons profissionais que se adaptam bem à execução de processos, mas não exija
deles criatividade e brilhantismo. Tampouco coloque profissionais brilhantes e
criativos sob o jugo do processo, isso irá cercear sua criatividade e apagar
seu brilho.
E você que acredita ser um profissional criativo e está sendo fustigado
por um alto índice de insatisfação, veja se isso não é por conta do processo
que você esta sujeito.
De qualquer modo, é importante ressaltar que no processo o resultado é
sempre previsível e será avaliado, de acordo com a expectativa em sucesso ou
fracasso, já na criatividade o resultado é sempre surpreendente. Mesmo que
exista alguma expectativa qualquer inadequação ao resultado é simples surpresa,
mas nunca fracasso. Portanto pensar em profissionais criativos dentro de
processos é sistematicamente anular a criatividade ou inutilizar o processo.
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