A sociedade em tempo de capitalismo insustentável.


O tema da sustentabilidade ainda que não tenha conseguido a proeza de compor como peça integrante o emaranhado teórico que faz emergir nossas mais cotidianas ações, amiúde visita alguns de nossos pensamentos. É possível vê-la presente em ações de menor impacto como o descarte adequado de algum resíduo da civilização do consumo. Uma latinha lá, uma caixa ali, uma embalagem acolá, mas e essa embalagem? Difícil definir se jogamos no plástico ou no metal. Bom, alguém deve saber separar adequadamente esse material, então escolhemos uma das duas e jogamos nossa embalagem da batatinha e desoneramos nossa consciência deixando-a tranqüila com mais uma boa ação.
Tanto quanto muitos de nós, o mundo se questiona sobre o tema da sustentabilidade. Inúmeras conferências reunindo dignos representantes de grandes nações pensam em como viabilizar economicamente um mundo sustentável. Eco 92, Rio +20 entre outras tantas serviram para se discutir e avançar na temática sustentável, mas ainda vejo mais confusão do que direção. Ora, quando se pergunta sobre a viabilidade econômica para um mundo sustentável admite-se tacitamente que existe em nossa consciência um privilégio do econômico sobre o ecológico. Pode-se crer a partir dessa pergunta que se não for economicamente viável poderemos então tolerar um planeta insustentável o que seria um absurdo lógico, pois uma economia somente pode ocorrer em um planeta que pode comportar a vida dos seres humanos. A conseqüência disso seria toda a humanidade morrendo, mas com dinheiro no bolso! Uma vez não havendo planeta, - ou melhor, condições de vida humana no planeta, pois ainda que desmatado, ferido, sujo e desfigurado o planeta continuará ai -, economia alguma subsistirá, tampouco o homem!
Quero crer que isso se deve ao fato de que se interpôs o conceito de economia para mediar nossa relação com o planeta – penso que Henri Bergson atestaria essa afirmação caso estivesse ainda conosco. Perdemos uma relação imediata e acreditamos estar sempre sujeitos a essa mediação. Não é lógicamente muito menos ecologicamente necessário o questionamento sobre a viabilidade econômica para se ter um planeta sustentável. A economia, uma vez que fora criada pelo próprio homem pode eventualmente ser recuperada, modificada, transformada, abolida, o planeta pode não ser!
Uma vez que essas reuniões são, no mais das vezes, orquestradas pelas grandes potencias mundiais que assumiram para sí um papel de liderança no sentido de arbitrar sobre o tema da sustentabilidade, pode-se admitir que a pergunta sobre a viabilidade econômica para se ter um mundo sustentável tenha por pano de fundo uma outra questão escamoteada, a saber: quem irá arcar com o ônus das ações com vistas à sustentabilidade? Ora, se tomassem somente para si esse ônus, correriam o risco de perder o status de nações ricas, mas uma vez que o ônus seja compartilhado democraticamente o status, tanto quanto os privilégios perdurariam. O questionamento não é necessário, mas somente se dá na medida em que se querem mais sócios minoritários para essas ações.
Por outro lado, tampouco a nossa própria relação com o planeta se dá de modo imediato. Elegemos (ou não!) um ou mais tutores para mediar essa relação. Continuamos a acreditar que alguém deve fazer alguma coisa e com isso retiramos o ônus dessa responsabilidade de nossos ombros. Jogamos a latinha ou a embalagem nos cestos coloridos e acreditamos estar fazendo a nossa parte! Mas quem é esse alguém? O governo, as empresas, as ONG’s ecológicas? Ora o que são essas ONG’s senão possibilidades de nós mesmos da sociedade civil nos organizarmos em torno dos temas que nos afetam? Organizações não governamentais, que não visam o lucro e portanto não são empresas. São sociedades que atuam e que podem adquirir força suficiente, advinda da união de muitos em torno de um ideal, para discutir em pé de igualdade com os outros atores, isto é, empresas e governos. Temos um papel que pode ser decisivo nessa questão e só não será se, influenciados por uma super estrutura teórica que preconiza a individualidade e a competição com o outro, não nos organizarmos em torno de uma cooperação mútua.
Cedo ou tarde precisaremos nos defrontar com o problema do consumo, do descartável, do lixo, da impermeabilização do solo, com o desmatamento e nem falo o de florestas, mas mesmo o desmatamento das cidades. Esse desmatamento urbano provoca um aquecimento. Se ainda não é um aquecimento global ao menos é local. Tapamos o sol com a peneira ou com o ar-condicionado para arrefecer o calor. Reclamamos das enchentes e criamos os piscinões, aí reclamamos da dengue e nos abrigamos nos shoppings. Compramos e jogamos as embalagens nos cestos coloridos, novamente dragados pelo redemoinho do consumo e da economia.

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