O sempre desafiador ato de "Delegar"
Do modo como é feito
costumeiramente, o ato de delegar poderia ser inserido num glossário qualquer
de administração desse modo: Delegar: ato
de retirar de nossas responsabilidades as atividades mais chatas e enfadonhas e
que não rendem nenhum ponto com o superior imediato. Todavia, se a tarefa
delegada não for satisfatoriamente cumprida pode render alguns pontos
negativos. Tudo bem, no ato de delegar também vão de brinde as
responsabilidades inerentes à tarefa, então poderemos colocar a culpa nas
costas do incompetente que não a realizou.
Por outro lado, se fosse encarada de modo mais
sério e responsável a definição apresentada ficaria por demais carente.
Primeiro precisamos saber quais as competências fundamentais precisa ter o
determinado profissional para poder absorver a tarefa em questão. Uma vez de
posse dessa informação, o segundo passo é o de identificar entre os liderados
qual deles tem aproximadamente o perfil adequado. Aproximadamente, pois pode
ser que não existam as condições necessárias, então precisaremos desafiar o
profissional a desenvolver novas capacidades. Tampouco podemos negligenciar que
essa possa ser uma limitação que vai envolver não só um aprendizado, mas uma superação.
Deve-se acompanhar o processo de
desenvolvimento e superação e fustigar para que ele ocorra o mais breve
possível, tomando o cuidado de equilibrar o nível de stress para que se
transforme em motivador, mas que não sacrifique o aprendiz. Ora, se ele foi
digno da confiança para a tarefa deve ter lá seu valor e esgotá-lo ao limite
pode ser prejudicial para ambos. Corremos o risco de transformar o ato de
delegar numa pequena fábrica de incompetência.
Após o desenvolvimento das
competências deve-se acompanhar a tarefa bem de perto de modo a garantir que
será executada a contento. Um cuidado especial na passagem do bastão deve ser
tomado para delegarmos o objetivo final e não o como fazer. Permitir que o profissional não seja um mero reprodutor
de processos, mas que possa ter a criatividade e a iniciativa de inovar nos
caminhos. Desde que o objetivo seja alcançado, pouco importam os caminhos, e
com freqüência, nos surpreenderemos ao ver que havia um modo de chegar a ele
mais produtivo do que o nosso modo.
Assim a pessoa também pode dar o seu toque pessoal que transformará a tarefa em
realização pessoal, mais do que mera reprodução.
Esse seria o melhor dos mundos
imaginados se fosse real. Na prática isso não é assim tão fácil. Isso porque
existe um ingrediente intangível que foge ao planejamento. O obstáculo! Costuma-se pensar o
obstáculo, metaforicamente, como uma pedra qualquer no caminho e que qualquer
um que passasse por ele teria de enfrentar. A experiência nos dá conta de algo
diverso. Os obstáculos não são meramente impessoais. Eles são nossos obstáculos e fustigam
especificamente nossas dificuldades particulares. Algo como: se a pedra cair no
seu pé ela não vai cair em qualquer dedo, mas cairá sempre naquele que tem
aquela danada da unha encravada, ou exatamente em cima daquele calo que mais
dói, ou bem na ponta do joanete. No ato de delegar certamente haverá de se
superar um duplo obstáculo o de quem delega e o do outro.
Nosso modo costumeiramente egocêntrico
de ver a vida costuma nos dizer que a dificuldade do outro é incompetência. Que
o jeito do outro é errado. Que o outro não tem capacidade suficiente para
executar e, com isso, so delegamos no pior momento possível, quando não há mais
tempo para cumprir todas as etapas do processo. Acabamos por postergar a tarefa
de delegar até o ponto onde ela se torna altamente crítica. Esbarramos em uma
comunicação falha, uma expectativa falsa, e em um ilusório resultado perfeito
logo da primeira vez. Carregamos toda a atividade de uma densa e negra névoa de
stress, ambiente muito pouco apropriado para o aprendizado. Obtendo sucesso ou
não, nesse modelo sempre sobram arranhões na relação entre ambos. Como ainda
não estamos habituados a lidar com conflitos, mais fácil é eliminar o conflito do que superá-lo.
A experiência me contou que todo relacionamento pressupõe conflito.
Se não há conflito, não há verdadeiramente um relacionamento. Quer seja
profissional ou emocional. Se existem dificuldades a serem superadas no outro,
haverão outras tantas a serem superadas em nos mesmos, e eliminar o conflito
não vai ajudar em nada a superar nossas dificuldades. O conflito é exatamente o
obstáculo que nos fustiga a todo instante e continuará a fustigar enquanto não
superarmos definitivamente. Quantas dificuldades teimam em nos assombrar
repetidas vezes? Mais fácil acreditar que os outros são os incompetentes e
seguir arrastando nossa enorme sacola de dificuldades pessoais.
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