Respeito!


Falei tempos atrás sobre algumas ilusões generalizadas que por serem compartilhadas por um grande numero de pessoas nos aparecem com ares de verdade. Entre essas ilusões esta nossa idéia de respeito. Tantas pessoas entendem respeito de um modo bastante peculiar. Acreditam que respeitar é aceitar o outro como ele é. Aceitar placidamente como o outro pensa acreditando que “essa é sua opinião!”. Não, isso não é respeito, isso é não se envolver!  Quando estamos envolvidos nós nos incomodamos. O modo como se pensa interfere diretamente nas ações como também nas reações.
Quando alguém que nos é caro faz algo que nos incomoda, não nos cabe simplesmente respeitar o modo de agir e de pensar do outro. Quando agimos temos como guia todo um conjunto de crenças, valores, que nos fazem ter um modo particular de ver o mundo, de agir nele e de esperar do mundo uma determinada resposta. Se a outra pessoa faz algo que colide com esse nosso modo de ver o mundo ela também de algum modo esta desrespeitando o modo como eu vejo o mundo. Não que ela esteja me desrespeitando, mas o meu modo de ver o mundo está sendo desrespeitado.
Por outro lado não há que se respeitar todos os diversos modos de ver o mundo, isso é completamente impossível. Aceitar o que o outro faz é desrespeitar a si próprio. Afrontar o outro é desrespeitá-lo. Quando ocorre esse tipo de colisão, de confronto entre diferentes sistemas crenças de pessoas que se importam entre si, dói, machuca, incomoda! Tampouco conseguimos ceder sempre pelo bem da relação! Sempre que voluntariamente cedemos, isto é, engolimos sem concordar com a atitude do outro, também colocamos um pesinho de um dos lados da uma balança imaginária e ficamos aguardando que o outro deposite outro tanto no outro prato da balança para ficar equilibrado. Coisa que raramente ocorrerá e se ocorrer pensaremos sempre que o que nós depositamos foi maior até pelo fato de que medimos o peso do outro com os nossos próprios critérios, mas o fato é que sempre aguardamos, - quando não cobramos – uma contrapartida.
Bom, pelo rumo da conversa qual é solução?
O problema é que pensamos respeito de modo errado. Pensamos conflito de modo errado. Buscamos evitar o conflito, buscamos preservar nosso espaço e o outro age do mesmo modo. Uma vez instaurado o conflito ele deve ser resolvido, ou ultrapassado ou tolerado. Não há que se evitar o conflito, ou encará-lo como lamentável fatalidade. O conflito faz parte de nossa vida e devemos aprender a conviver com ele. Tirar o máximo proveito dele.
Como disse, o modo que pensamos nos faz agir de determinado modo e nos faz ter determinadas expectativas. Mas a ação, tanto quanto a expectativa são a parte mais superficial do que somos. Se tudo vai bem nessa camada superficial é nessa mesma superficialidade que reside a relação. Nenhuma relação será realmente profunda se não revolver e abalar o mais profundo de nos mesmos. Uma relação que não nos abala no mais profundo de nós mesmos é somente uma relação superficial.
O primeiro passo é confrontar os fundamentos mais primordiais que edificam nosso modo de pensar e de agir no mundo e questionar sua coerência e sentido. Se saímos fortalecidos desse primeiro confronto com o nosso próprio espelho nosso dever é questionar o outro do mesmo modo. Corremos, contudo, o risco de ver insultadas nossas vaidades, mas, cá entre nós, se as vaidades têm mais força que a relação, então, abandone a relação. Mas se a relação nos for suficientemente cara, então, abandone as vaidades!
Se o conflito nos fez refletir, repensar nossas convicções e transformar nossa postura; crescemos com isso e o responsável pelo crescimento foi exatamente o conflito. Não haveria a transformação sem o conflito. Todavia não há que se exigir do outro, postura idêntica. Que tenhamos claro que o outro necessite do mesmo grau transformação, mas se ele ainda não chegou a essa conclusão, nos cabe respeitar seu momento. Não que devamos aguardar pacientemente até que o outro caia em si espontaneamente. Podemos dar uma forcinha e fomentar vez por outra o conflito. Costumo usar uma imagem para ilustrar o que acabei de dizer. Todos que já viram um pé de limão sabem o tamanho de seus espinhos. Não há que se subir no pé para apanhar o limão, os espinhos não o permitiriam. Tampouco há que se ficar aguardando no chão até que um ou outro limão resolva cair por livre e espontânea vontade. Nesses casos enfia-se um belo pontapé no tronco do limoeiro de modo a abalar o máximo possível. O limão que estiver maduro vai cair. O que ainda não estiver maduro ainda vai ficar paradinho lá no alto aguardando até estar maduro.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Organograma!

O nascimento do pensamento contemporâneo:

Modelagem de processos em arquitetura organizacional