Liderança para um novo milênio!
Mesmo que timidamente,
creio que a onda da reciclagem pegou.
Enfrenta alguns problemas é claro. Material reciclado ainda é, em geral, mais
caro do que o novo. Alguns produtos feitos com esse material não têm o mesmo
acabamento. Alguns materiais são de difícil reciclagem como as embalagens metalizadas
de salgadinhos e biscoitos, pois cerca de 30 % é refugo não aproveitável. Alguns
materiais são quase que inviáveis economicamente como papeis de bala ou
embalagens de bombom por exemplo. Vejo pessoas apanhando latinhas, PET quando o
as recicladores conseguem pagar um preço razoável, mas os vidros são de mais difícil
manuseio embora completamente recicláveis. Mas, mesmo diante de inúmeras
dificuldades ainda penso que a reciclagem pegou.
Coisa um pouco mais difícil
é a reutilização. Estamos assistindo
uma tentativa de ressurreição das garrafas de vidro abandonadas recentemente em
prol das latinhas e dos PET’s. As garrafas de vidro podem ser reutilizadas inúmeras
vezes. Bastando para isso serem higienizadas. O problema é que os hábitos do
consumidor ávido por praticidade precisariam retornar aos anos 80, quando ainda
se mantinha em casa engradados de garrafas de cerveja e de refrigerante. Precisaríamos
inaugurar uma prática de reutilização de garrafas de vinho e de outras bebidas,
frascos de perfume, mas seus fabricantes, que poderiam reutilizá-las, estão
longe, então o que fazer?
Contudo, creio que o “R”
de mais difícil solução seja o de reduzir.
Postulo que na medida em que falamos em Desenvolvimento
Sustentável, falamos de crescimento econômico sustentável, isto é que se mantenham
as condições necessárias na natureza para que possamos continuar explorando
seus maravilhosos bens também no futuro. Mas crescimento econômico ocorre com
trabalho e crescimento da produção. Então não se está falando em reduzir. Toda
empresa capitalista quer e busca um aumento em seu faturamento de um mês para
outro ou de um ano para outro. Ora o que é o aumento do faturamento senão um
aumento nas vendas e, consequentemente, na produção? O mesmo acontece com os
países. Todos buscam o famoso superávit,
o crescimento do PIB. Ora o que é o
crescimento do PIB senão o aumento das exportações com aumento na produção?
Então como se pensar em reduzir? Em todo noticiário ouvimos falar sobre “perspectivas
animadoras” de crescimento de um ou de outro país e comparamos com o nosso. Queremos
a todo custo uma elevação em nosso PIB. Esperamos, com isso, que existam mais
recursos, mais dinheiro, mais riquezas a serem partilhadas pela população
elevando a famosa renda per capta.
Honestamente, não
consigo vislumbrar coisa qualquer que se pareça com algo “ambientalmente
sustentável” pensando em aumento de produção. Aumento de produção parece
implicar em aumento no consumo de energia, aumento da extração de matéria prima
virgem ou reciclável, aumento da quantidade de resíduos de produção, aumento no
consumo de matérias de acabamento e de embalagem, aumento de poluição, de lixo
e de trabalho, quiçá desnecessário.
Contudo reduzir teria
um impacto econômico forte em nossa sociedade. Não creio que se possa falar em
desabastecimento propriamente dito. Embora existam sazonalidades em alguns
produtos, penso que a humanidade atingiu um nível de excelência em sua produção
que a dificuldade de consumo em algumas regiões se deve tão somente à logística
para se fazer chegar o produto até ela do que por um eventual desabastecimento gerado
pela redução da produção. Por outro lado, reduzir a produção implica em redução
de faturamento, de horas trabalhadas, de valor pago para o trabalhador e, em
última instância, redução do PIB. Raros são os trabalhadores de quaisquer que
sejam seus setores produtivos que tenham gordura suficiente para manter seu nível
de vida mesmo com uma possível redução de sua remuneração. Isso reduziria, para
muitos, sua capacidade de consumo a níveis inferiores ao necessário. Certo que
com a diminuição do poder de compra geral os preços também cairiam pela lei de oferta e procura o que talvez
recolocasse o mesmo trabalhador no jogo novamente num segundo momento. Que os
donos da oferta consigam segurar os
preços durante algum tempo, mesmo assim, uma redução no consumo pressionaria
para uma queda de preço. Parece que o cenário encerraria uma readequação, mais
do que uma recessão. Talvez seja mais um retorno ao normal depois de um anormal crescimento do especulativo ou do
descartável.
Considerando a empresa
em relação aos seus concorrentes pode parecer num primeiro momento que se trate
de uma perda de competitividade. Mas considerando que a medida de redução da
produção venha em auxilio da sustentabilidade verdadeiramente falando, menos do
que uma perda de competitividade essa medida pode encerrar uma tomada de
posição de liderança ambiental. Uma
vez que se consolide sua produção em produtos realmente sustentáveis
utilizando, ai sim, os três “R’s” da sustentabilidade, a empresa poderá assumir
uma liderança para um novo milênio. Tomando de modo sério a iniciativa pela
sustentabilidade, a empresa assumirá um papel de liderança, mas agora em um
novo paradigma.
Partindo da idéia de
redução da produção e, com isso, das horas de trabalho, sem que isso encerre,
verdadeiramente, uma redução do poder de compra, o trabalhador pode obter um
crescimento, mas de satisfação e
qualidade de vida. Não mais se poderá preconizar o crescimento do PIB, mas
de outro índice que já existe, mas ainda não ganhou o devido IBOPE: o FIB, ou felicidade interna bruta.
Reduzir, nesse sentido
tem uma relação mais forte com uma mudança de paradigma econômico/ambiental do
que um retrocesso a níveis anteriores de consumo. Trata-se de uma evolução de
consciência que pode oferecer uma queda de posição na competitividade do jogo
destrutivo de uma economia predatória, mas uma dianteira de vanguarda em um
novo jogo muito mais nobre, construtivo, evolutivo, numa palavra: mais humano.
Comentários
Postar um comentário