Produção, especulação e livre iniciativa.
É sabido que tem mais chances de ganhar um bom dinheiro, quem já tem um
bom dinheiro. Está em melhores condições de negociação, tem maior poder de
compra e de barganha, não tem pressa na venda e pode aguardar o momento ideal
para o melhor negócio. Com isso, este que ocupa as camadas superiores de uma
hierarquia social de conformação piramidal, arrasta para o topo certa
quantidade de recursos que ora estavam mais abaixo circulando nas camadas
inferiores. Se essa lógica esta correta é de se esperar que todo recurso que
temporariamente circula pelas camadas mais próximas da base piramidal trilhem
através de fluxos contínuos unidirecionais o caminho do topo e só fiquem
circulando nas camadas inferiores, certo excedente desnecessário que poderá ser
apropriado ou não de acordo com a vontade dos de cima.
Investimentos de setores produtivos injetam parte destes recursos do topo
em novos projetos de negócio e com isso colocam certa quantidade de capital novamente
em circulação. Assim, tanto irrigam as camadas inferiores aquecendo a economia
quanto cumprem uma tarefa, voluntária ou não, de distribuição de renda. Essa
iniciativa, ao longo do tempo produz dividendos sociais, na medida em que gera
trabalho e remuneração, mas também tem a capacidade de fazer o recurso
investido retornar ao seu lugar de origem, fazendo com que não somente o
investimento seja recuperado, mas ainda retornem mais gordos e saudáveis.
Penso que, bem grosso modo, é assim que gira a economia. O governo também
tem seu papel, na medida em que efetua investimentos em infra-estrutura e
serviços, sobretudo sociais, injetando capital na economia. Com isso saem
beneficiados tanto os que estão no topo a custa de novas oportunidades de
negócio, quanto os que ficam na base com maior oferta de trabalho.
Contudo penso que essa mecânica promove logicamente sempre um fluxo dos
recursos para o topo da pirâmide. Com
essa lógica os ricos ficarão sempre mais ricos e os pobres ficarão mais pobres,
ou ao menos conseguiram manter-se estacionados na mesma condição, tendo seus
recursos sempre dragados por uma torrente ascendente. Enquanto há investimento
produtivo a base será constantemente irrigada, ao menos o suficiente para não
secar a fonte. Preservando assim tanto o poder de compra quanto o fluxo
ascendente dos recursos valorizados pelo trabalho da base.
Se, com o aparecimento do sistema capitalista em substituição a um
feudalismo monárquico, tivemos um ganho, na medida em que se trouxe a
prerrogativa de ascensão social para as mãos da livre iniciativa. Parece haver aqui um deslocamento desse conceito.
Ora a idéia de livre iniciativa parece agora ter uma relação mais estreita com
a decisão livre de quem está no topo se irá ou não investir o seu rico
dinheirinho, do que uma real liberdade de qualquer um ter alguma iniciativa que
possa oferecer a mobilidade social pretendida.
Contudo, a dificuldade maior que vejo é quanto ao capital meramente especulativo.
A especulação, a rigor, não tem por finalidade produzir nada. Quando produz tem
vistas mais ao rendimento do que a própria produção. Mesmo que seja um
investimento de risco e que eventualmente dê prejuízo, o capital especulativo
ainda fica resguardado por alguma apólice de seguro ou por uma dívida que
permanecerá ativa ou até ser liquidada ou até caducar, mas mesmo essa não se
transformará em prejuízo, na medida em que irá se incorporar à taxa de risco
dos novos investimentos permitindo sua posterior recuperação. Salvo a injeção
de capital para pagamento da burocracia necessária para o controle da
especulação e ela se transformaria meramente numa draga da economia sugando para o topo todos os recursos
disponíveis.
Se Marx apontava os proprietários dos meios de produção como vilões de um
capitalismo nascente, nos dias de hoje esses proprietários foram transformados
em meros proprietários (ou proletários) explorados tanto quanto os
trabalhadores, pelos novos senhores do capital. Olhando biologicamente essa
parece ser uma relação mais parasitária do que comensal. Não tendo mais
recursos para sorver dos proletários atuais, buscam alienar o futuro com
financiamentos a cada vez mais longo prazo, e para não correr o risco de uma
morte súbita de sua entrada, incorpora à prestação um seguro de vida, desse
modo alienando a própria morte do hospedeiro.
Olá Connie, acredito que você não tenha realmente lido a postagem. Se tivesse lido perceberia o quão inapropriada é seu comentário.
ResponderExcluir