Administração: gênese e mutações em curso.
Administração: gênese e mutações em curso.
Por Jadir Mauro Galvão
A
administração, como conhecemos hoje, nasceu em meio a um caldo histórico,
político, ideológico, epistemológico entre outros ingredientes.
A Revolução
industrial marca o nascimento das primeiras iniciativas privadas com fins de
lucro. Privadas no sentido de que era a própria população civil a tomar tal
iniciativa, independente da autorização ou não de algum rei. Mas mesmo o
sucesso desta empreitada não conferia qualquer tipo de honraria social para a
época. Não era o dinheiro, tampouco o empenho o critério de status social. A sociedade
dessa época tinha um fundamento de posição social diferente dos nossos dias.
Ter um título de nobreza, conhecer determinado ofício, destreza em armas para a
batalha ou mesmo fazer parte do clero eram consideradas fundamentos de classes
sociais. E mudar de classe social era ordinariamente improvável.
Se desse a
sorte de nascer em uma família de ferreiros, seu destino estava ordinariamente
fadado a continuidade de aprender o ofício e se manter na mesma posição social.
A mobilidade social era coisa rara e, por isso mesmo, os raros casos foram alvo
de romances extraordinários. No romance que retratava os três mosqueteiros, foi
justamente um plebeu, Dartanham, que acendeu a classe dos mosqueteiros por
conta de sua bravura. Os ladrões de Sharewood acenderam à classe da nobreza por
apelo de Sir Robin Hood.
Esse modelo de
organização social perdurou por mais de mil anos. Mas pouco a pouco foram gestadas
ideias, até então utópicas, que iriam transformar esse cenário.
A Revolução industrial
abriu um espaço na pirâmide social para acomodar os burgueses endinheirados,
mas ainda com pouco ou nenhum prestígio social
Mas foi a independência
americana e, mais fortemente, a revolução francesa que transformou o cenário
político e social.
A guilhotina
acabou por decapitar o topo da pirâmide social deixando-o livre para que outra
classe, sob outros critérios, a ocupasse.
Sob a bandeira
da liberdade, igualdade e da fraternidade teve início um novo modelo de
organização social.
Mas os novos
ocupantes ainda se empenhavam para comprar por um bom punhado de dinheiro e
esforço os títulos de nobreza que pudessem conferir algum prestígio social.
Mais do que
isso, mantiveram, sem qualquer tipo de necessidade para tal, um modelo
piramidal de sociedade, marcado pelo excludente.
Esta nova sociedade
fez suas escolhas e mesmo suas renúncias. Apostou na ciência e na tecnologia.
Na produtividade, na praticidade e no pragmatismo, ao mesmo tempo em que
renunciou à igreja, ao pensamento filosófico de maior profundidade, à
metafísica. Escolheu o prático em detrimento da beleza.
Mas esse novo
modelo de organização social possibilitou o que até então era pouco usual: a
mobilidade social. Desde então, era possível galgar as oportunidades oferecidas
e, sob sua conta e risco, galgar posições mais acima ou mais abaixo da
sociedade.
A partir e
então, toda uma multidão de pobres, doentes e desdentados podia trabalhar nas
fábricas e, com isso, ganhar seu sustento.
Alguns tantos
pensadores dessa época forjaram os novos valores e nos deixaram de legado. Adam
Smith considera que não é pela benevolência do padeiro, ou do açougueiro que
devemos esperar pela riqueza das nações, mas de sua consideração para consigo
mesmo. De seu interesse próprio. Numa palavra: do seu egoísmo. Uma de suas
teses principais diz que a riqueza das nações se deve à recíproca busca pelos
seus interesses privados.
Enquanto os
metafísicos dedicavam seu tempo na busca pelo fundamento primeiro de todas as
coisas sensíveis, os iluministas e os pragmáticos se ocupavam das questões práticas
do cotidiano. Não é difícil saber quem destes prosperou em meio a essa nova
sociedade.
O método
científico descrito por René Descartes fez a ciência avançar e fornecer os
conhecimentos necessários para o avanço da indústria e sua produção em escala.
O método
cartesiano pregava a divisão do objeto de estudo em partes menores e no seu
conhecimento, previsão e controle. Se conhecêssemos o funcionamento de todas as
partes conheceríamos o funcionamento do todo.
O mundo era
como um grande relógio, com suas cordas e engrenagens. Conhecendo o
funcionamento de cada uma das partes saberíamos como se comporta a máquina como
um todo.
E foi dentro
desse paradigma científico que foram concebidas as primeiras escolas de
administração. Taylor, Fayol e Ford, cada qual com sua engenhosidade cartesiana
deram o tom de como deveria ser administrada uma indústria de sucesso. Sempre
na busca por uma maior produtividade e lucratividade.
Cada
departamento funcionando bem como uma parte do todo da empresa faria com que toda
a empresa funcionasse bem. Tudo administrado e controlado por uma burocracia
que tinha no comando e no controle das atividades o segredo do sucesso, do
lucro e do crescimento econômico.
Nessa
estrutura padrão da administração clássica era preciso: Prever e planejar, Organizar,
Comandar, Coordenar e Controlar as ações, os procedimentos e os resultados. Nessa
grande cadeia de engrenagens a peça mais frágil era o ser humano.
Era preciso
extrair o máximo de produtividade da mão de obra. Para tanto, dividir as ações,
escolher e treinar profissionais cada vez mais especializados em poucas
atividades parecia ser uma boa prática cartesianamente recomendável.
No entanto uma
experiência foi levada a cabo no intuito de adicionar ações que pudessem elevar
a produtividade dos profissionais. A Experiência de Hawthorne previa que
se se aumentassem a luminosidade no local de trabalho a produtividade
aumentaria. Mas o que a experiência comprovou foi que a melhoria da
produtividade não se devia à luminosidade, mas à atenção e o cuidado que as
pessoas tinham.
Tratar seres
humanos como tal e não como peças ou máquinas era o segredo. A partir dessa
experiência deu-se início a preocupação com uma administração mais humanizada.
Mas que até os dias atuais não se efetivou clara e definitivamente.
Muitos avanços
já foram obtidos, mas não sem uma certa resistência e hesitação por conta do
eventual aumento de custos que cada benefício pode proporcionar.
Talvez outro
fator tenha resultado em avanços na relação entre administração e o ser humano:
a política.
Com a
Revolução russa e o avanço do socialismo em diversos países os sindicatos como
movimentos de massa de trabalhadores acabaram por se transformar em meios de
disseminação ideológica na esteira de proporcionar benefícios aos trabalhadores.
O Brasil,
embora não se tenha bandeado em meados do Século XX para o lado socialista
acabou por atender aos anseios populares (senão populistas), e adotou a CLT –
consolidação das leis do trabalho. Isso promoveu uma porção de garantias aos
trabalhadores quanto aos sua carga de trabalho, remuneração salubridade entre
outras garantias.
Muitas coisas
se modificaram ao longo do século passado trazendo melhorias. Se não pela
consciência dos empresários, ao menos por eventos que ocorriam em outras áreas
da sociedade. Mudanças na epistemologia, na política, no sindicalismo, na
psicologia, na tecnologia....
No campo da ciência
e epistemologia o paradigma cartesiano acabou sendo ultrapassado como concepção
pelos paradigmas da complexidade e o paradigma de sistemas.
Agora o todo e
a parte têm uma nova relação. Ambos os paradigmas consideram que o todo é mais
do que a soma das partes. A administração pode adotar novos esquemas gráficos diferentes
das tradicionais pirâmides hierárquicas de comando e controle.
Hoje já
falamos de um paradigma Integral. Para muito além do modelo cartesiano e mesmo
da complexidade, o modelo integral proposto por Ken Wilber a partir do
pensamento de Clare Graves nos oferece um modo de olhar para as pessoas e para
a realidade de um modo bem mais apropriado.
Mas não foi somente
as mudanças na geopolítica, na, na ciência/epistemologia que exerceram influência
no modus operandi da administração. Mudanças na psicologia, na tecnologia, na
economia e mesmo a própria guerra exerceram fortes influências.
Aliás, costumo
dizer que, mesmo agora, está acontecendo alguma coisa em algum lugar e que vai
mudar profundamente o trabalho e a nossa vida como um todo.
Não caberia
aqui enumerar uma dezena de outras mudanças que afetam o cotidiano da vida e da
administração. Mas sim deixar um sinal de alerta! É preciso ativar um radar que
vise monitorar mesmo os sinais fracos do que ocorre cá e acolá e avaliar de que
modo as coisas que vem acontecendo nos mais diversos âmbitos do ser humano e
mesmo da natureza e que podem exercer forte e decisiva influência em nosso modo
de vida e no nosso trabalho.
A tecnologia,
o Bitcoin, a inteligência artificial, a indústria 4.0, a robótica, o
transumanismo, a viagem espacial.....
Comentários
Postar um comentário